sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ministério presbiteral: desafios e perspectivas - 7

Nossa gente espera muito do ministro ordenado. Normalmente, os católicos dão crédito a seus líderes; até que uma desilusão gigantesca ou um escândalo enorme venha convencer do contrário, o padre é, pensa o católico, alguém em quem se pode confiar, alguém que sabe acolher e amar.

Vamos refletir, então, sobre a importância da acolhida e o papel do presbítero nessa nobre missão de acolher e amar o outro.



c) A acolhida

Se o Deus escondido se torna próximo e se dá a conhecer e experimentar na ação litúrgica e evangelizadora da Igreja, o lugar por excelência do encontro com Deus é o ser humano, uma vez que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). No mistério escondido de cada pessoa, Deus se revela; ele age; o Deus totalmente Outro se mostra no rosto do outro que pede para ser amado e oferece seu amor. Não se pode pensar em experiência de Deus se não no confronto com aquele que de nós se aproxima.

O presbítero tem sempre diante de seus olhos pelo menos dois públicos bem distintos.

Existe um povo sofrido, que é maltratado por forças opressoras e pelas mazelas da vida desigual, conseqüência de um sistema desumano. Esse povo quer ser acolhido, escutado e ajudado. Ao ministro ordenado, muitos vão buscando uma orientação, um conforto, um alívio, uma palavra amiga... A ele vão alguns buscar ajuda financeira, remédio, comida... Outros vão atrás de força para viver, de sabedoria para se safarem das enrascadas da vida...  Casas e  escritórios paroquiais tornaram-se ponto de referência, de apoio, pronto-socorro para todo sufoco e apuro da vida, mesmo nas cidades e comunidades pequeninas. Conta-se com o presbítero para defender a vida, para acolher e cuidar da vida ameaçada e frágil. A acolhida tem sido apontada como uma das exigências mais gritantes de nossa gente. E para isso, não basta apenas capacitar boas secretárias, criar a pastoral da acolhida ou da visitação catalogando as famílias, ou abrir uma Casa do Peregrino. É preciso muito mais: uma atitude de culto e de reverência diante do outro que se aproxima. Reverenciar o outro, especialmente o mais fraco, aquele cuja vida está mais ameaçada, desponta como tarefa urgente do presbítero.

Existem ainda os leigos atuantes na Igreja, aqueles que resistem bravamente contra toda evasão e insistem em ser Igreja. Esses também precisam ser acolhidos e amados. São aqueles que desejam participar mais da vida da Igreja, inclusive das decisões, das quais os leigos, por direito, devem participar. O Código de Direito Canônico fala disso. Os leigos têm direito de participar. Compete ao ministro ordenado fomentar e criar condições para que essa participação seja efetiva, por exemplo, por meio dos conselhos pastorais. Os leigos participam até na administração, por meio dos conselhos econômicos. Nosso povo, tão desrespeitado em seus direitos, quer na Igreja uma acolhida diferente. (“Os chefes das nações as oprimem... entre vós não deve ser assim” – Mc 10,43).  Quer participar de forma ativa e decisiva.

Por isso, espera-se que o presbítero seja mais um pastoralista, que um simples gerente ou administrador. Alguém que acolha as pessoas com respeito e dignidade, que cuide da ovelha ferida; alguém que conforte os leigos e os promova para que possam participar melhor da vida da própria Igreja, sentindo-se não apenas servos do clero, afinal, como disse o evangelista, o próprio Jesus trata seus discípulos de amigos e não de servos (cf. Jo). Nossos leigos querem ser discípulos e missionários, como hoje é comum dizer; não apenas ajudantes ou colaboradores dos presbíteros. Por isso, espera-se que o presbítero seja alguém que saiba cuidar de pessoas, mais do que de coisas. E que, ao cuidar das coisas, ao gerenciar a vida da Paróquia ou da comunidade, sempre em comunhão com os leigos, faça-o para o bem das pessoas. Para isso, é preciso cultivar uma atitude reverencial e respeitosa para com o outro que se aproxima de nós, como sinal do Filho de Deus encarnado. Na pessoa do próximo, o Deus totalmente Outro se manifesta e se deixa experimentar: uma verdadeira experiência do mistério escondido!


SOLANGE MARIA DO CARMO
DOUTORANDA EM CATEQUESE E PROFESSORA DE TEOLOGIA BÍBLICA NA PUC-BH
AUTORA DA COLEÇÃO CATEQUESE PERMANENTE DA PAULUS EDITORA COM Pe ORIONE (MATERIAL QUE SERÁ ADOTADO PELA DIOCESE DE LORENA EM 2010)
__________________________________________________________________________
CLIQUE NO MARCADOR À ESQUERDA DE SEU VÍDEO EM "SOLANGE MARIA DO CARMO" E ACOMPANHE TODOS OS TEXTOS DE SOLANGE

Um comentário:

  1. Parabéns, professora Solange!
    Tenho acompanhado semanalmente os seus "escritos". São ótimos. Imprimi todos. Considero você uma pessoa muito corajosa, que escreve o que pensa, sem mediocridade. A vida da Igreja, em muitas paróquias, está longe de ser o que a gente sonha e gostaria de ajudar a construir.Que Deus te abençoe!

    ResponderExcluir

Olá. Seja bem vindo (a)!!! Deixe seu comentário. Será bem legal.
Obrigada. Volte sempre!!!!!