sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ministério presbiteral: desafios e perspectivas-5

Na semana passada, conversamos sobre esse novo tempo que vivemos, com características e exigências próprias, que não deve ser ignorado pela Igreja na formação de seus ministros. Nossa gente católica não vive mais no regime de Cristandade, não tem mais os pressupostos religiosos de antes e espera ser evangelizada. O caminho para essa evangelização passa pelo mergulho na fé, pela experiência de Deus. Não há evangelização sem essa experiência do mistério, sem esse rendimento ao sagrado. E o caminho para essa experiência é diversificado e comporta várias modalidades. Cito apenas três delas, para mim fundamentais e bem próprias do ministério ordenado: a liturgia, a catequese e a acolhida.

Vejamos hoje a importância da liturgia nesse processo e o papel do presbítero nesse itinerário.

a) A liturgia

A liturgia católica nada mais é que a celebração do mistério da morte e ressurreição de Jesus, o Filho de Deus, por meio de quem o Pai se dá a conhecer, na ação do seu Espírito. O presbítero é o homem da liturgia, em todos os sentidos, não só da celebração dos sacramentos. A liturgia é o lugar da experiência do mistério, do encontro com Deus, do cultivo da comunhão com ele, que se revela e se torna presente no meio de nós. Expressões como “celebrar bem”, “celebrar com beleza”, “celebrar de forma a penetrar no mistério” não deveriam existir. A princípio são pleonásticas. O mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus que acontece em cada celebração já contém o belo, é pleno, é profundo por natureza. Mas, às vezes, o pleonasmo é necessário para recordar que o fundamental, por vezes, fica esquecido. Nossa gente católica tem o bom costume de celebrar. A velha e surrada Missa nunca caiu de moda, mesmo com toda a virada que o catolicismo sofreu. Mesmo que seja de vez em quando, até o católico mais relaxado vai a alguma celebração. Pode ser uma missa de formatura do filho, a celebração das exéquias de algum parente querido, o casamento de algum conhecido, o batizado do filho de um bom amigo... O presbítero tem à sua disposição, bem à sua frente, uma multidão de gente reunida. Basta celebrar bem, basta deixar Deus se revelar no mistério celebrado e a comunidade terá iniciado um processo de volta para Deus, de redescoberta da fé adormecida pelo processo de secularização da sociedade. A liturgia é fonte e cume da vida cristã, já disse o Concílio (SC, 10). Se é fonte e cume da vida cristã, toda expressão de fé vem dela e nela desemboca. Ou melhor, ela é a expressão do encontro de Deus com sua gente e de sua gente com seu Deus. Eu sou do grupo dos que pensam que missa bem celebrada é aquela que favorece o encontro com Deus; aquela na qual o povo cultiva sua relação com ele; aquele encontro de onde o povo sai fortalecido, alimentado, nutrido; aquela celebração onde o povo celebra – pois é um povo sacerdotal – podendo expressar sua vida na presença do Deus da vida. Os presbíteros são desafiados hoje a celebrar de forma que o povo sinta vontade de voltar para o próximo encontro, mesmo que ali ele tenha ido por acaso, e não tanto por escolha. Um presidente que celebre bem, que como dirigente ajude o povo a fazer seu mergulho no mistério, é algo a que a comunidade de fé tem direito. Ou nossos presbíteros rezam bem com sua gente, ou nossas igrejas vão ficar cada vez mais vazias. Espera-se, pois, que o presbítero seja um mistagogo, mais que um mestre ou um professor. Alguém que celebre a vida e o mistério, não que apenas os explique. Com isso não se quer afirmar que não se deva ensinar, dar algumas explicações, pois faz parte do munus presbiteral também ensinar. Celebrar a vida e o mistério não exclui o múnus de explicar, afinal o povo tem direito à teologia. O risco do qual devemos fugir é o de celebrar com a cabeça e não com o coração; realizar o culto sem, no entanto, se envolver e sem envolver o povo no mistério celebrado.

Na semana que vem, falaremos sobre a catequese como portadora de grande potencial para promover a experiência de Deus.



SOLANGE MARIA DO CARMO
DOUTORANDA EM CATEQUESE E PROFESSORA DE TEOLOGIA BÍBLICA NA PUC-BH
AUTORA DA COLEÇÃO CATEQUESE PERMANENTE DA PAULUS EDITORA COM Pe ORIONE (MATERIAL QUE SERÁ ADOTADO PELA DIOCESE DE LORENA EM 2010)

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