quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Padre, delicadeza do Coração de Jesus


Evangelizando com a alegria da Páscoa e a coragem de Pentecostes


Antes de tudo, caro (a) leitor (a), quero dizer-lhe que o sacerdote existe porque Deus ama você. O padre é ponte entre Deus e o povo. A palavra "padre" quer dizer "pai". Sim, pai da comunidade, amigo de Jesus, irmão dos seus colegas padres, diácono do povo. A todos os padres nossos cumprimentos, parabéns e agradecimentos. Se o Papa João Paulo já pediu 94 perdões em seu pontificado, não tenho nenhuma dificuldade em pedir perdão e perdoar nossos padres. Eles não precisam tanto dos nossos elogios, mas da nossa compreensão e colaboração. Sem eles, os bispos nada são, dizia um bispo francês no Concílio Vaticano II.

Que você padre seja o melhor audiovisual do amor do Pai, especialmente para os mais pequeninos. No dia de sua ordenação o bispo rezou para você “carregar o fardo do povo”. É a vocação do “padre-Cirineu”, um padre carregador de fardos, um “padre povoado”. Todos sabemos que a ordenação não suprime as fragilidades e limitações do ordenado. O sacerdote continua após a ordenação sob o peso da fragilidade humana, mas a graça sacramental o sustenta e o torna imagem do Bom Pastor, que dá a vida pelo rebanho. O padre não deve esquecer que ele é um “médico ferido” diz B. Haring. Mas, pela oração, a fraqueza humana se transforma em força. Carregamos o mistério em vasos de barro (cf. IICor 4, 7).

Deus deposita em seus padres um voto de confiança. Por isso os presbíteros serão os primeiros a carregar a tocha da luz, da vida e do calor que emanam do coração de Deus, rumo ao novo milênio. Sejamos homens de esperança e de alegria, sabendo que a inautenticidade prejudica a fé do rebanho. O padre não pode viver uma heresia vital, dizer uma coisa e fazer outra. O mundo hoje, não acredita nos mestres mas nas testemunhas.

O padre é um “homem matinal”, profeta da vida, peregrino em busca da verdade, pois dos lábios do sacerdote esperamos a ciência. Homem caminhante, homem sempre em partida, “homem exodal” que vai ao encontro dos fiéis, evangelizando com a “alegria da Páscoa e a coragem de Pentecostes”, construindo a sociedade nova. O padre constrói mais pelo que ele é, do que pelo que faz.

Em nossos dias a pessoa do padre é muito controvertida. Para uns, o sacerdote é um anjo, para outros um demônio. Nem anjos nem demônios, nossos padres são pessoas humanas nas quais Deus apostou e mesmo quando estes erram Deus não os desautoriza, mas, em Seu amor sempre fiel, continua apostando na conversão de seus escolhidos. Bem escreveu São Francisco de Assis: “Quero temer, honrar e amar os sacerdotes como meus senhores, pois neles está o Filho de Deus. Não levo em consideração os seus pecados porque reconheço neles o Filho de Deus e eles são os meus senhores.”

O padre é uma delicadeza do Coração de Jesus. “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração” (Jo 3, 15). Nossos sacerdotes não precisam tanto de nossos elogios, mas do nosso perdão, da nossa compreensão e colaboração. O padre é uma invenção do amor trinitário em favor do povo. Você criança, você jovem, você adulto ouça a voz de Deus que o chama para a vocação. Ser padre não é uma dignidade só para os santos e justos, nem é uma degradação para quem não alcançou outros ideais na vida. O padre é um pai, um pastor, um profeta, um homem de Deus e se você conhece padres que não são assim, ajude-os a serem fiéis, porque o padre não existe para si, mas para o povo.

O apóstolo Paulo define o sacerdote como “administrador dos mistérios de Deus” (I Cor. 4, 1), mas é em “vaso de argila” que ele carrega esta dignidade e responsabilidade. Não é pois a pessoa humana do padre que nos encanta e inquieta, mas a missão que lhe foi confiada. Ser padre não é uma honra, mas uma responsabilidade. O padre é uma chave que abre o acesso a Deus, é uma escada que conduz ao céu, é um sinalizador do amor de Deus, é uma ponte que liga o céu e a terra. Em nossos dias a Igreja deseja padres animadores de comunidades, comprometidos com a causa dos excluídos, construtores de uma sociedade nova, justa e fraterna, lugar do reino de Deus.


FONTE: CNBB
Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina - PR

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