sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Evangelização: missão e desafio - 3




Para melhor compreender a evangelização hoje e os rumos que a catequese da Igreja tomou, é importante rever a história. Voltemos ao século XVI, com o Concílio de Trento, convocado por Paulo III, em 1537, mas que, por causa da guerra iniciada entre Carlos V e Francisco I, rei da França, foi inaugurado somente no dia 13 de dezembro de 1545, sendo encerrado no dia 4 de dezembro de 1563. O Concílio de Trento é marco importante na vida da Igreja, pois ressitua a pastoral católica diante dos questionamentos advindos da Reforma Protestante.

A Reforma Protestante
Enquanto a Idade Média respirava o ar católico, filtrado pela liderança dos representantes da Igreja, que não se sentia ameaçada por outra religião cristã que pudesse se apresentar como competitiva, a catequese permaneceu viva, mas sem grandes acentos que pudessem lhe servir de balizas. Ela estava presente especialmente por influência de pregadores populares, santos que dedicaram sua vida à evangelização, alguns movimentos de volta ao evangelho, congregações religiosas e monásticas. Mas os dias de estabilidade da Igreja como única religião cristã, como bloco monolítico que mantém a hegemonia do cristianismo, estavam contados. Em meio a tantos altos e baixos, nos bastidores da Igreja, um teólogo agostiniano alemão, Martinho Lutero , ruminava sonhos de mudança e se sentia sufocado pelos ares viciados que penetraram na cristandade. Práticas piedosas de devoção iam se firmando, nem sempre bem fundamentadas no que se entendia como o ideal cristão, até chegar ao seu ponto máximo no caso das indulgências . Tal era a gravidade da situação, que circulava pela Alemanha um famoso dito popular: “Logo que o dinheiro tilinta na caixinha, imediatamente a alma salta para fora do purgatório”.

A prática das indulgências havia se tornado um comércio avalizado pelo papa. O ponto nevrálgico da problemática era o embate entre fé e obras. Martinho Lutero insiste na salvação como dom gratuito de Deus. As obras, por mais desejáveis que sejam como operacionalização do evangelho, não são garantia de merecimento da salvação, afirmava o religioso. E não é só Lutero que se apresenta insatisfeito. A visão teológica dominante que favorecia tais piedades, intimidando alguns, ameaçando outros, marginalizando a maioria, não agradava mais a todo o público católico. Lutero quer pensar essas questões e escreve suas teses: gota d’água para fazer o copo transbordar. Está convencido de que a Igreja de Roma se desviou do verdadeiro evangelho. Mas a crítica do reformador ao lucrativo negócio das indulgências – sobremaneira a investida contra a grande indulgência pelas contribuições para a construção da basílica de São Pedro – não poderia ficar sem repercussões . A Igreja, representada pelo papa Leão X, não ficou satisfeita com tal atrevimento. Estava posta a faísca da discórdia que ia incendiar todo o palheiro.

Lutero encontrou voz para fazer ressoar seu pensamento graças ao apoio dos príncipes alemães, que estavam cansados da tutela da Igreja. Afinal, em todo grande movimento herético o fator político quase nunca está ausente. Assim, uma questão antes teológica vai tomar viés político e o diálogo se tornará impossível. Em 1521, Lutero é excomungado e a Reforma Protestante se torna um fato histórico, capaz de dividir não só o povo, mas reis e rainhas: algo real demais para a Igreja ignorar.

Dada a largada do movimento, outros vão se colocar na competição para reforçar a disputa contra a Grande Igreja: Zuínglio e João Calvino (Suíça e países vizinhos); Henrique VIII (Inglaterra) e muitos outros. Numerosas insatisfações adormecidas eclodem por meio da Reforma Protestante, dando origem a denominações distintas. O combate entre as Igrejas será acirrado. Guerras religiosas se proliferam. Quem nunca ouviu falar da famosa noite de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572), em que morreram milhares de cristãos em confronto? Uma infinidade de cristãos é massacrada e a morte chega em nome da verdadeira fé.

A partir de Lutero e do movimento em seu entorno, alguns princípios protestantes foram estabelecidos, norteando toda a Reforma: sola fide, sola gratia, sola Scriptura. A Igreja Católica se vê quase que obrigada a fazer sua própria reforma. O Concílio de Trento, convocado em 1545, tem papel fundamental nesse processo. Mas isso é conversa pra outro encontro.

SOLANGE MARIA DO CARMO
DOUTORANDA EM CATEQUESE E PROFESSORA DE TEOLOGIA BÍBLICA NA PUC-BH
AUTORA DA COLEÇÃO CATEQUESE PERMANENTE DA PAULUS EDITORA COM Pe ORIONE (MATERIAL QUE SERÁ ADOTADO PELA DIOCESE DE LORENA EM 2010

MARCADOR: SOLANGE MARIA DO CARMO
Acompanhe no blog. Continua na próxima sexta-feira.

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