domingo, 1 de novembro de 2009

MISSA DE TODOS OS SANTOS


Primeira leitura: Apocalipse 7, 2-4.9-14
Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas.

Salmo responsorial : 23,1-6
É assim a geração dos que procuram o Senhor!

Segunda leitura: 1 João 3,1-3
Veremos Deus tal como é.

Evangelho: Mateus 5, 1-12a
Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus.

Celebra-se hoje a solenidade de todos os Santos. Que bom seria se ela não se reduzisse somente ao que convencionamos chamar "mundo católico", ou seja, que ela fosse verdadeiramente "universal", no sentido original da palavra. Não queremos celebrar neste dia todos os que estão diante de Deus? Pois como vamos limitar e pensar em um "catálogo romano dos santos", dos "canonizados" pela Igreja católica romana, numa prática que vem desde o século XI de "inscrever" oficialmente os santos da Igreja em um livro? Será que os santos oficialmente inscritos durante nove séculos somente na Igreja católica são, de fato, todos os que estão diante de Deus, ou talvez sejam uma insignificante, quase uma invisível minoria entre todas as pessoas realmente santas diante de Deus?

Poucas festas como esta pretendem ser "universais": a festividade de todos os santos... E, portanto, deveríamos fazer um esforço por entendê-la com uma real universalidade. Esta é uma festa "ecumênica": que agrupa todos os santos que seguiram Jesus. É mais que ecumênica, porque não contempla somente os santos cristãos, mas "todos", todos os que são santos aos olhos de Deus. Isto quer dizer, obviamente, que também inclui os santos não cristãos... os santos de outras religiões (deveria ser uma festa inter-religiosa) e incluir os santos sem nenhuma religião.

Uma festa, pois, que poderia fazer-nos refletir sobre dois aspectos: o da santidade (o que é, em que consiste, que "confessionalidade" tem essa santidade...), e o do "Deus de todos os santos". Porque muitas pessoas ainda pensam, sem querer, em "um Deus muito católico". Para alguns, Deus seria inclusive "católico apostólico romano". Ou seja, nosso, ou, o Deus dos nossos, naturalmente. Um Deus católico, um Deus como nós, de fato. Pensado... também... um pouco à nossa "imagem e semelhança".

A amplitude universalista, a amplitude do coração e da mente para a universalidade, à acolhida de todos sem etiquetas particularistas, sempre questiona a nossa imagem de Deus. Deus não pode ser nosso Deus, o nosso, o que pensa como nós e que intervém na história sempre de acordo com nossos interesses... Deus, se é verdadeiramente Deus, deve ser o Deus de todos os santos, o Deus de todos os homens, o Deus de todas as utopias, o Deus de todas as religiões (incluída a religião dos que, com sinceridade e sabendo o que fazem, optam com consciência por deixar de lado "as religiões", menos "a religião verdadeira" da qual fala São Tiago em sua carta). Deus não é católico-romano, mas "católico" no sentido original da palavra. Ou seja: Deus está mais além de toda religião concreta. Está "com todo o que ama e pratica a justiça, não importando a religião, como disse Pedro na casa de Cornélio.

A primeira leitura bíblica da festa, mesmo sendo redigida em linguagem poética e ultra-metafórica, deixa bem claro: a multidão incontável que estava diante de Deus era "de toda língua, povo, raça e nação"... Naquele tempo, falar de "nações" implicava incluir a própria religião. João contempla reunidos, naquela apoteose, não somente os da própria religião, como todos os povos, isto é, todas as religiões.

Se corrigirmos assim a nossa visão, estaremos mais próximos de "ver a Deus tal como ele é" (segunda leitura), tal como poderemos vê-lo para além dos véus carnais do chauvinismo cultural ou o tribalismo religioso, que não são muito diferentes. Obviamente, esses "cento e quarenta e quatro mil" (doze ao quadrado, ou seja, "os Doze", ou "as Doze 'tribos' de Israel", porém elevadas ao quadrado, isto é, totalmente superadas, levadas para fora de si até dissolver-se em "toda língua, povo, raça e nação"), esses cento e quarenta e quatro mil, ou os entendemos como um símbolo macro-ecumênico, ou nos fazem retroceder ao tribalismo religioso.

A bem aventuranças oferecem a mesma visão "macro-ecumênica": valem para todos os seres humanos. O Deus que nelas aparece não é "confessional", de uma religião, não é "religiosamente tribal". Não exige nenhum ritual de nenhuma religião. Somente o rito da simples religião humana: a pobreza, a opção pelos pobres, a transparência de coração, a fome e sede de justiça, a luta pela paz, a perseguição como efeito da luta por causa do Reino... Essa "religião humana básica fundamental" é a que Jesus proclama como "código de santidade universal", para todos os santos, os de casa e os de fora, os do mundo "católico".

Se a propósito da festividade de todos os Santos nos é sugerido o texto das Bem-aventuranças, é porque elas são em verdade o caminha da santidade; em e com as Bem-aventuranças, como carta de navegação de nossa vida é possível alcançar a meta de nossa santificação, entendida como a luta constante para alcançar, a cada dia, o máximo de vida plena segundo o querer de Deus.

PORTAL CLARET

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