sexta-feira, 8 de julho de 2011

Como fazer uma catequese litúrgica?


Outra coisa que está muito em moda é dizer que a catequese tem que ser litúrgica. Essa constatação surgiu a partir do momento em que se constatou a importância de fazer dos encontros de catequese momentos mais celebrativos, mais orantes, que levem a pessoa a vivenciar o mistério da vida de Cristo. Para ser mistagógica, como vimos antes, a catequese precisa ser litúrgica. Na liturgia, com efeito, a gente celebra o mistério de Cristo. Participando de uma bonita celebração, a gente contempla o mistério de Deus. Uma senhora que conhecemos costuma dizer, ao voltar das missas, que parecia estar no céu, tamanha a beleza da celebração e da experiência de Deus que ela realizou. Ela é uma pessoa simples. Não sabe explicar o mistério – que nem é mesmo para ser explicado. Mas ela sabe se deixar envolver por ele.
O apelo para que a catequese seja mais litúrgica faz surgirem algumas iniciativas que nos parecem inadequadas. Algumas paróquias passaram a fazer os encontros de catequese a partir dos textos bíblicos lidos nas missas dominicais. O catequista pega esses textos e os estuda com os catequizandos. Mas, se faz deles um estudo, então já se perdeu o caráter celebrativo. Além disso, convenhamos que os textos litúrgicos se repetem a cada ano. Segui-los na catequese vai tornar os encontros rotineiros e repetitivos: a cada ano, os mesmos textos. Pensamos que a pessoa indo à missa já celebrou e vivenciou a liturgia da missa. Repetir isso na catequese é chover no molhado. Não que sejamos contra a repetição. Ela é uma boa técnica na catequese, mas não de forma redutora. A catequese deve continuar o mistério celebrado na missa. Para isso será importante o recurso da repetição, pois tratamos do mesmo mistério que é celebrado na Eucaristia: a vida, morte e ressurreição de Jesus. Mas “repetir o mistério” não é repetir o rito, nem as leituras da missa.
Outra coisa muito comum hoje são os álbuns de figurinhas, voltados principalmente para as crianças. A cada missa de que participa, a criança ganha uma figurinha e cola-a em um álbum bonito. A idéia é incentivar a participação das missas. Isso é bom. Mas as crianças deveriam participar da missa, porque ela é boa, atraente, intrigante, porque ela faz algum sentido, porque ela traz sentido: um momento especial de encontro com Deus. E não para montar um álbum de figurinhas! Então, a solução é mais difícil: melhorar a missa. Fazer uma missa adaptada à realidade das crianças, uma celebração que lhes fale ao coração, que lhes provoque o desejo de frequentar a próxima celebração. E, nos álbuns, além de a motivação para a vida litúrgica da Igreja ser extravagante, a prática é incentivar o catequista a debater nos encontros de catequese os evangelhos do domingo. Dessa forma, a catequese acaba virando debate do que já se celebrou. Achamos que dessa forma, ainda que a princípio se ganhe com a participação nas missas, se perde na prática catequética. Claro que é importante incentivar as pessoas a participar das missas, tanto os adultos quanto as crianças. Mas fazer da missa um momento para colar figurinhas no álbum ou fazer da catequese uma simples repetição da missa não nos parece a melhor saída.
Em algumas paróquias, ainda há a tendência de praticamente obrigar as crianças da catequese a irem à missa. Alguns fazem até chamada na Igreja. Em alguns lugares, a criança que faltar a determinado número de missas fica impedida de fazer a primeira comunhão ou de ser crismada. Mesmo reconhecendo a reta intenção do catequista ou do padre que age dessa forma, queríamos propor que a participação na missa fosse incentivada, mas não obrigada. As pessoas irão à missa por algumas razões especiais: ou porque têm a consciência do valor da eucaristia, ou porque têm até mesmo o costume familiar de participar das missas dominicais, ou porque gostam da missa e se sentem bem rezando. Ir à missa por obrigação acaba provocando uma reação contrária. A criança, depois da primeira comunhão, ou o jovem, depois da crisma, vai dizer: “Graças a Deus! Agora não preciso mais participar da missa!”. Ficou parecendo que a missa era um requisito para fazer primeira comunhão ou crisma. Está aí de novo a preocupação exacerbada com os sacramentos. Ajude os catequizandos a experimentar o valor da presença de Jesus e eles irão livremente às celebrações eucarísticas. O argumento da obrigação – faça isso porque senão não recebe aquilo – não evangeliza ninguém, não forma ninguém, não ajuda no processo de amadurecimento.
Outra questão que gostaríamos de falar, muito humildemente, é sobre o ano litúrgico, com os seus tempos diversos: advento, natal, quaresma, páscoa, tempo comum. Alguns, para dar à catequese a sua dimensão litúrgica, acabam estudando o ano litúrgico nos encontros de catequese. Então, mais uma vez, a catequese fica repetitiva e perde conteúdo, pois o ano litúrgico é a repetição anual do mistério de Deus, celebrado em nossas liturgias. Se o catequista todo ano tiver que estudar sobre o que é páscoa, o que é quaresma etc, vai gastar todo o seu tempo com isso. E, vejam só, estudar o ano litúrgico não quer dizer que se está fazendo uma catequese litúrgica. Ao contrário, estaríamos dando aula sobre liturgia. Mas catequese não é curso de liturgia e sim transmissão da fé. É claro que em algum momento da catequese, podemos ver com os catequizando algum conteúdo sobre como a Igreja organiza sua liturgia. Podemos também nos encontros lembrar os tempos fortes vividos pela Igreja. Mas esse não deve ser o conteúdo da catequese, porque queremos oferecer aos catequizandos um conteúdo orgânico e sistemático que vai além da repetição dos eventos litúrgicos.
Nossa catequese será litúrgica não porque repete o ano litúrgico, mas porque provoca e proporciona a experiência do mistério que a liturgia da Igreja celebra: a vida, morte e ressurreição de Jesus. Então, ela será mais litúrgica quando for mais celebrativa; quando ajudar os catequizandos a celebrar o mistério de Cristo em suas vidas; quando perder seu caráter escolar; quando fizer do mistério pascal seu conteúdo principal e da iniciação sua pedagogia própria. Mais uma vez, repetimos: a catequese litúrgica deve ser menos aula e mais encontro orante. Não precisa, e nem deve, restringir-se a levar as crianças às missas – porque queremos mais que isso – nem deve ser mera repetição anual do ciclo litúrgico.

 Textos da professora Solange Maria do Carmo em parceria com o Pe Orione Silva e que serão publicados em formato de um livro, pela editora Paulus, com o título Catequese permanente: fundamentos e organização.

 MARCADOR:
CLIQUE NO LINK DO MARCADOR PARA ACOMPANHAR OS TEXTOS DA PROFESSORA SOLANGE EM NOSSO BLOG. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá. Seja bem vindo (a)!!! Deixe seu comentário. Será bem legal.
Obrigada. Volte sempre!!!!!