A necessidade de uma catequese mais afetiva foi percebida melhor a partir dos documentos que falam da chamada emergência da subjetividade. Era a descoberta da pessoa, com seus afetos e suas emoções, sufocada na massa social que parecia anular o indivíduo em nome do bem da coletividade.
O bem da coletividade é sumamente nobre, precisa ser buscado, promovido e assumido pela Igreja em sua ação evangelizadora, com todas as suas forças. Mas essa busca comunitária não pode anular a pessoa. No começo, isso foi visto como coisa estranha, que parecia prejudicar o profetismo da Igreja, tão empenhada nas causas sociais.
Mas aos poucos já dá para perceber que cuidar da pessoa é tão nobre como cuidar da coletividade. Uma coisa não exclui a outra, ao contrário, uma coisa exige a outra. Então, a catequese se viu na necessidade de valorizar a pessoa, com toda a sua complexidade, com seus afetos e emoções, com suas necessidades e indagações filosóficas, existenciais, com suas alegrias e tristezas, entusiasmo e desânimo – o ser humano é mesmo complexo. Daí surgiu o discurso sobre a catequese mais afetiva.
Os catequistas, então, começaram a se perguntar como fazer a catequese afetiva. Uns acharam que deviam passar a abraçar as crianças, acolhendo-as carinhosamente ao chegarem para os encontros. Surgiram pequenas, mas boas, iniciativas, como visitar as crianças, comemorar o aniversário natalício, prestar mais atenção em cada pessoa e transmitir mais afeto. Alguns acharam que para ser mais afetivo seria bom dizer palavras no diminutivo como mãezinha do céu, ovelhinha de Jesus – não sabemos se isso ajuda em alguma coisa ou se parece mais uma catequese afetada, e não afetiva. Alguns começaram a expressar o afeto abraçando os catequizandos e convidando-os para se abraçarem uns aos outros, dizendo a eles “Jesus te ama e nós também te amamos!”.
Certa vez, em um encontro de catequistas, fomos convidados a nos abraçar, a deitar no colo um do outro. O outro deveria massagear o nosso rosto e a nossa cabeça. Foi uma dinâmica até meio constrangedora, para dizer a verdade. O objetivo era “liberar os afetos”. Mas essa liberdade toda em massagear o outro e dizer que ama pode soar superficial e, em alguns casos, até de mau gosto.
Nossa catequese vai ser mais afetiva, sem precisar ser afetada, se valorizar a pessoa, com seus dramas pessoais, com sua existência sofrida. Não é apenas a sociedade que sofre e precisa de libertação. A pessoa também sofre e precisa ser ajudada. Para isso, o catequista deve não ser apenas aquele que ensina a doutrina, mas alguém que partilha sua experiência de fé e escuta o que se passa no coração dos catequizandos. O catequista será também amigo, mais que mestre. Pode visitar, pode cantar parabéns no aniversário, pode dizer que ama as crianças ou adultos. Mas só isso é pouco. O catequista precisa ser como pastor que cuida de ovelhas, para usar uma linguagem bíblica. Jesus foi assim, sem ser afetado. As necessidades e os mistérios da pessoa humana também devem aparecer como conteúdo da catequese. Um pouco de psicologia e de antropologia ajudam a pessoa a compreender a si mesma. A pessoa fica melhor consigo e com a vida e até segue Jesus com mais alegria.
Nossos encontros costumam ser frios e oferecer pouco espaço para as pessoas se manifestarem. Em uma missa, por exemplo, nem sempre há muito espaço para a pessoa se expandir. Tudo é muito ritualizado. Todos com a mesma postura, dizendo as mesmas coisas. Uma catequese mais afetiva também pode oferecer um espaço menos rígido para acolher a pessoa do jeito que vem, do jeito que é, da forma como se expressa. Em orações pessoais, em cantos, em gestos, em partilhas.
Certa vez, em um encontro de catequese, ao fazer as preces espontâneas, enquanto todos rezavam pedindo a Deus paz, amor, alegria, saúde e coisas afins, uma criança fez uma prece pedindo a Deus uma bicicleta. Na hora, a turma achou graça. Parecia que o menino queria avacalhar o momento de oração. A catequista foi cautelosa e acalmou a turma, encerrando o momento de oração com sabedoria. Depois do encontro, a zelosa catequista procurou o menino, à parte, e conversou com ele para entender porque havia pedido a Deus uma bicicleta. Por trás daquela oração extremamente espontânea e sincera, havia uma criança com problemas familiares que realmente precisava muito de ajuda em muitos aspectos, incluindo a bicicleta. A catequista deu um jeito de arranjar a bicicleta para o menino, apesar de esse não ser o objetivo da catequese. E o ajudou em suas necessidades afetivas que envolviam inclusive problemas de família. Isso é catequese afetiva. A criança se sentiu confortável, no encontro catequético, para expressar o drama que vivia. A catequista foi sensível para ouvir sem deixar a criança cair no ridículo. O catequizando se sentiu confortado e continuou firme no seguimento do processo catequético.
Não precisamos ter medo de que isso vire moda e as crianças comecem a pedir a Deus carros importados e apartamentos de cobertura. Isso não acontece. Mas é muito comum que as pessoas – crianças ou adultos – tenham necessidade de se expressar e a catequese pode ser um momento oportuno para isso. Isso exige do catequista um envolvimento afetivo com a turma. No melhor dos sentidos.
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