quinta-feira, 14 de julho de 2011

CAMINHOS DE EXISTÊNCIA


8. CAMINHO DA CONFIANÇA

O ser humano não escolhe nascer. Outros decidiram pôr-nos no mundo. A vida, sob o olhar imediato, é-nos dada pelos pais. Bastaria o mínimo pormenor que não os tivesse aproximado e/ou que lhes tivesse tirado o desejo de gerar-nos, e não estaríamos habitando o planeta. Nascemos da liberdade ou mesmo da casualidade de outros, mas não de nós.

Num segundo momento, surge o cuidado – mais uma vez de outros – para conosco. O animal segue o ritmo do instinto. Não existe dom nem escolha. Funcionam leis procriativas, fruto de longuíssimo processo evolutivo. Apenas parido, ele luta para subsistir sem cuidado de ninguém. Lá aonde nunca chegou o olhar humano, as vidas animais seguem o ciclo da natureza com sucessos e fracassos, com novidades e extinção.

O recém-nascido, largado a si mesmo, não sobrevive. E se é verdade o fato de Amala e Kamala – crianças da Ìndia que, abandonadas pela mãe, foram criadas por loba -, a história mostra que não adquiriram nenhum comportamento humano. De ser humano, só tinham a parte genética.

A criança estabelece, especialmente com a mãe, uma primeira atitude de confiança, antes mesmo que lhe brote a consciência. O ser humano basicamente só existe se confia. Eis o primeiro caminho existencial. À medida que se cresce, a confiança ultrapassa a dimensão primeira, quase instintiva, para amadurecer na liberdade. E se algum rompimento interferir nesse processo, a criança paga pesado preço existencial. Se paramos um instante para pensar, constatamos que a estrutura da confiança em milhares e milhares de pessoas para comer, andar pela rua, morar em casa, trabalhar, estudar, rezar etc. em todo ato humano, há um braço em que nos apoiamos.

j. B. Libanio, sj

TEXTO PUBLICADO NO FOLHETO "O DOMINGO"

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