sexta-feira, 15 de abril de 2011

Catequese permanente - 02


Entendendo o caráter permanente da formação
A pergunta que se faz é a seguinte: “O que a Igreja quer dizer quando fala de formação permanente? O que seria de fato esse caráter permanente que se quer imprimir ao processo formativo?”.
Muitos entenderam a formação permanente como se isso significasse apenas a continuidade da catequese depois da primeira comunhão até a crisma, portanto num referencial ainda sacramental. O problema detectado nas paróquias é que as crianças se afastam da catequese depois da primeira comunhão e só retornam para o curso de crisma.
A partir daí, entendeu-se que organizar uma formação permanente seria o mesmo que incentivar a perseverança na catequese, nessa fase entre a primeira comunhão e a crisma. Muitas paróquias dizem que trabalham na formação permanente pelo simples fato de não interromperem o processo catequético depois da primeira comunhão. De qualquer forma, isso já representa algum progresso.
No entanto, parece que o caráter permanente da formação exigiria algo mais. Logo depois da Conferência de Santo Domingo, foi possível ouvir vários bispos que voltaram de lá animados, afirmando mais ou menos o seguinte: “O desejo da Igreja é que todo fiel crie o costume de participar de encontros formativos do mesmo modo que têm o costume de ir à missa aos domingos”.
Essa afirmação nos pareceu surpreendente. Por duas razões: primeiro, porque parece propor uma formação voltada para todos os fiéis, em moldes que ultrapassam o velho modelo dos cursos para sacramentos. Esses cursos para sacramentos já se mostraram insuficientes para ajudar o cristão na busca de sua maturidade. Do que os bispos afirmaram, podemos entender que a Igreja deseja criar o costume de realizar nas paróquias encontros formativos tão freqüentes e continuados como a celebração da missa. Talvez pudéssemos entender que seriam encontros semanais, já que o costume da missa é semanal. Além disso, outra coisa nos pareceu bastante vanguardista: a Igreja equiparou formação e missa, colocando ambas no mesmo patamar. Isso é revolucionário. Se os padres e o povo derem à formação a mesma atenção que dão às celebrações da missa, se reservarem para a formação o mesmo tempo que reservam para as missas, se marcarem encontros formativos nas comunidades como marcam missas, então, pode-se esperar uma mudança total no modo de organizar a vida paroquial.
De tudo isso se vê que o caráter permanente da formação, se for levado a sério, vai exigir mais que uma catequese de perseverança. A formação permanente, pelo menos pelo que se ouviu dizer aqui e ali da boca de muita gente influente da hierarquia da Igreja, ganharia um status respeitável na vida da Igreja, comparável ao status da missa.
Há outra coisa fundamental: a formação seria desvinculada dos sacramentos. Os sacramentos acontecem uma vez ou outra na vida da pessoa. Alguns só acontecem uma vez. Uma formação escorada nos sacramentos dificilmente conseguiria ser permanente. É preciso separar essas duas realidades: uma coisa é a formação; outra coisa são os sacramentos. O que é o mesmo que dizer: uma coisa é a catequese; outra coisa são os sacramentos. Ambos são importantes. Mas a catequese não é apenas para preparar para os sacramentos. Seu alcance é bem maior; seus objetivos são mais amplos.
Os párocos irão reagir, dizendo: “Mas na cabeça do povo a catequese é para os sacramentos”. E estão certos. O povo quase sempre pensa assim. Mas não nos iludamos. A prática pastoral foi quem fez a cabeça do povo. O povo pensa assim porque a Igreja, há mais de quinhentos anos no Brasil, ensinou assim e fez assim. Se a Igreja começar a ensinar e a fazer diferente, o povo entenderá diferente. E o povo é bom e aberto ao novo. Seria bom não duvidar de sua capacidade de renovação!
Os párocos pensam também que o povão, em geral, não aceita freqüentar encontros semanais de formação. Há um pensamento segundo o qual o católico só vai à missa e, assim mesmo, de má vontade. Muitos padres não investem em formação permanente, por julgar precipitadamente que o povo não vai corresponder. Dizem: “O povo não está interessado!”.
Entretanto, a experiência mostra o contrário. Nosso povo tem sede de viver novas experiências da fé, de aprofundar sua fé, de saber suas razões, de rezar, de cantar, de celebrar, de encontrar o caminho para sua maturidade cristã. Uma formação que responda eficazmente a essa sede do povo, sem dúvida, fará sucesso. O povo quer encontrar no Evangelho forças para a vida, quer partilhar suas alegrias e angústias, quer aprofundar seus conhecimentos bíblicos, quer conhecer a doutrina da Igreja, quer experimentar uma espiritualidade mais profunda, quer se preparar para assumir seu protagonismo. Evidente que o povo não vai suportar uma formação que fosse um mero curso de teologia. É preciso encontrar um método para formar o povo. A tentação dos padres é sempre lançar sobre o povo todo o pacote teológico que sobre eles foi lançado no seminário. Convenhamos, há certa teologia acadêmica que não serve mais nem para os seminários, quanto mais para o povo. Uma das coisas práticas que a Igreja deveria ter feito, como conseqüência de seus discursos sobre formação permanente, é preparar os padres para serem formadores do povo.
É preciso conquistar e atrair o povo para o processo formativo. Nos padrões antigos, que ainda perduram em muitos lugares, os sacramentos é que atraem o povo para a formação. A Igreja usou, e ainda usa, os sacramentos como isca para chamar o povo para cursos e catequese. O povo que é atraído pelos sacramentos vai embora logo que consegue os sacramentos. É preciso providenciar outra isca. Talvez, nos tempos atuais, a própria sede de aprofundamento que está crescendo no povo, até como consequência dessa explosão do sagrado no mundo pós-moderno, possa servir de ponto de partida e de motivação para a formação permanente.



Textos da professora Solange Maria do Carmo em parceria com o Pe Orione Silva e que serão publicados em formato de um livro, pela editora Paulus, com o título Catequese permanente: fundamentos e organização.

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