sexta-feira, 8 de abril de 2011

Catequese permanente - 01




Iniciamos hoje uma série de artigos sobre a catequese. Durante vinte semanas, vamos postar toda sexta-feira um texto que trata da formação permanente, suas características, seus desafios, sua organização. São textos da professora Solange Maria do Carmo em parceria com o Pe Orione Silva e que serão publicados em formato de um livro, pela editora Paulus, com o título Catequese permanente: fundamentos e organização. Se você se interessa por esse tema, fique atento: em breve teremos livro novo esclarecendo a teologia catequética e as exigências paroquiais para que ela seja bem sucedida.

Rumo a um processo de formação ou catequese permanente
O que é catequese permanente? O que é formação permanente? A expressão parece clara. Mas na prática essa expressão tem sido interpretada de modos diversos, gerando estratégias de organização diferentes em cada paróquia ou diocese. Vamos resumir aqui o que pensamos sobre isso.

Discutindo conceitos
É importante termos certa uniformidade de conceituação. Senão, todos falamos da mesma coisa, mas cada um entende de modo diferente. A confusão de conceitos sempre gera dificuldades práticas na hora de planejar as estratégias paroquiais. Nos vários documentos da Igreja, encontramos em diversos momentos a preocupação de definir o que seria a catequese, diferenciando-a da evangelização, da missão, da formação. No fundo, parece que estamos falando sempre da mesma coisa: da missão da Igreja de oferecer às pessoas oportunidade de fazer não somente a iniciação na fé cristã, mas o aprimoramento que visa motivar o cristão a estar sempre em busca da maturidade da fé.

Entendendo a formação
A palavra formação tem sido retomada na Igreja de modo novo. Muitos gostam de estabelecer uma diferença entre catequese e evangelização. Dizem que evangelização é um processo mais querigmático. Seria o primeiro anúncio da fé para pessoas que não têm ainda a experiência de Deus. E a catequese seria mais doutrinária e significaria o aprofundamento do primeiro anúncio. A Igreja precisaria primeiro evangelizar para depois catequizar. Mas hoje já se diz que a própria catequese deve ser querigmática, apresentando seus conteúdos de modo a aprofundar não um conhecimento, mas uma experiência de Deus. E se sabe também que não é possível evangelizar sem catequizar. Não é possível apresentar Jesus, sua vida, morte e ressurreição, senão de forma contextualizada numa comunidade eclesial. Ninguém prega um “Jesus quimicamente puro” sem a fé da Igreja a qual participa. Então, tudo se mistura.
Já há uma tendência de chamar de catequese o primeiro anúncio, isto é, a transmissão da experiência primeira da fé, e de formação a continuidade desse processo. Nesse sentido, a catequese seria transitória e a formação seria permanente. Tudo isso não passa, porém, de discussão de conceitos e nomenclaturas. E não se muda a realidade trocando apenas a nomenclatura nos documentos eclesiais.
Seja como for, compreendemos aqui que a formação engloba todos os elementos necessários para que cada fiel possa fazer sua experiência de fé e caminhar com segurança para a sua maturidade cristã. Estamos falando, então, de todos os fiéis – membros da Igreja – sejam crianças, adolescentes, jovens ou adultos. Dê a isso o nome que se quiser, o importante é cumprir o mandato de Jesus: “Ide pelo mundo inteiro; pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
Quando a Igreja diz, em seus documentos, que é preciso investir na formação dos fiéis, devemos entender que é prioridade na Igreja, principalmente nos tempos atuais, criar condições, em cada paróquia, para que cada pessoa possa conhecer o Deus da fé cristã e crescer nessa fé, adquirindo maturidade cristã.
O conceito de maturidade é bastante amplo. E é mesmo polêmico. O apóstolo Paulo, na Carta aos Efésios, entende maturidade como o processo que leva a pessoa a adquirir a estatura de Cristo (Ef 7,13). Do ponto de vista antropológico, poderíamos dizer que a maturidade é a descoberta do “melhor eu” que existe dentro de cada pessoa. Cada pessoa precisa descobrir o melhor de si, desenvolvendo suas potencialidades, num sentido integral. Como o ser humano é bastante complexo, sua maturidade há de ser entendida em múltiplas dimensões que se complementam, gerando o equilíbrio e a harmonia. Uma pessoa que se desenvolve em apenas um ou outro aspecto não atinge a plenitude de sua maturidade.
É por isso que a formação humana não pode privilegiar um aspecto em detrimento de outros. Medellín disse que a catequese precisava assumir as angústias do homem moderno. Mas a interpretação que se fez dessa frase levou muita gente a priorizar o aspecto sócio-político. Certamente isso aconteceu pela influência das angústias sociais e políticas que marcavam, e ainda marcam, nosso continente latino-americano. Mas havia outras angústias que não foram percebidas e tratadas com a mesma atenção. Quando se falava em formação, os padres logo imaginavam formação sócio-política, para formar o cidadão ou, melhor talvez, o militante.
Acontece que “ninguém é só militante; somos todos pessoas, com múltiplas necessidades. Precisamos todos de pão, moradia, saúde, mas precisamos também de atender ao lado emocional, afetivo, sexual, cuidar dos sentimentos, das relações pessoais” (Estudos da CNBB, 73, n. 13).
A missão da Igreja não é formar militantes, mas cristãos maduros. Um cristão maduro será obviamente engajado nas lutas, mas não se limitará a isso. Um cristão em busca da maturidade será sempre um militante; mas nem todo militante será com certeza um cristão em busca da maturidade.
A ênfase exclusivista no aspecto sócio-político gerou dentro da Igreja um preconceito contra o lado afetivo das pessoas, visto como sentimentalismo, individualismo, alienação, direitismo. Como reação a esse preconceito, surgiu outro que considera esquerdismo socialista toda abordagem político-social.
Mas o equilíbrio humano não está nesses extremos. O ser humano é um todo. E a Igreja precisa cuidar de todos os aspectos que envolvem o ser humano. Pode haver, em certos casos, a emergência de um dos aspectos. Mas não há a supremacia de uns sobre os outros. Portanto, não se pode pensar, ao falar de formação, em privilegiar um aspecto e deixar outro de lado. Nem se pode achar que, resolvendo uma questão, as outras serão automaticamente resolvidas.
Uma catequese que prioriza partes da pessoa humana peca por não entender a profundidade da pessoa e não tratar do todo.

SOLANGE MARIA DO CARMO

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