Diante de tantas perguntas levantadas, os católicos de boa vontade se esforçam para encontrar caminhos. Vejamos alguns mais frequentes nas igrejas hoje.
a) A volta à piedade
Ressoam pelos corredores da Igreja apelos à vida espiritual e piedosa. Multiplicam-se os encontros, os movimentos se incham de pessoas, os grupos com vertente mais devocional são estimulados e apoiados, a piedade se alastra. Devoções que pareciam extintas retornam: jaculatórias voltam em forma de mantras; as orações do terço, da via-sacra e de ladainhas retornam com um pouco mais de dinamismo e colorido. E mais: novenários, catenas, orações aos santos e devoções antes esquecidas são recuperadas. Encontros de espiritualização são promovidos, experiências de oração acontecem. Por todo lado e a toda hora, o povo católico reza e busca a Deus. Padres celebram às onze horas da noite, numa sexta-feira, para os jovens, antes de eles irem para a "balada". Senhoras se levantam de madrugada para caminhadas penitenciais. Grupos diversos se reúnem para rezar e partilhar a Palavra de Deus. Tudo mostra um retorno da piedade. A impressão que dá é que a perplexidade é tal que, não sabendo o que fazer, a solução é rezar. Mas, às vezes, não sabendo também entrar em comunhão com Deus por outra via, o católico reza suas antigas orações de forma um pouco modificada. Elas se revestem de uma nova roupagem, têm embalagem mais atual, mas mantém-se o mesmo princípio orientador e a mesma teologia que as sustentava.
Parece uma maratona de oração. Cada grupo quer ser mais piedoso e mais embalado pela mística que o outro. A palavra mística nunca esteve tão presente na vida da Igreja. Busca-se uma mística cristã em tudo e para tudo. A oração se apresenta como princípio de renovação das comunidades que caíram no marasmo da fé.
b) O endurecimento da lei cristã
Não são poucos os católicos que desejam um endurecimento da Igreja em relação às suas leis e normas. “Tudo parece muito avacalhado.” – dizem alguns – “Tem divorciados dando catequese, casais de segundas núpcias sendo padrinhos de batismo, mães solteiras na equipe de liturgia, pessoas que defendem o aborto trabalhando nas pastorais e muito mais”. Pensa-se que a solução é ser mais rígido, mais rigoroso. Afirmam que, se a Igreja não aceitar tais pessoas, estará evitando tais desmandos. Parece que, se ela “expulsar” do grupo de jovens a moça que se tornou mãe solteira, vai moralizar o movimento de juventude. Se ela endurecer o discurso sobre o sexo antes do casamento e fizer campanha contra a camisinha, vai tirar os jovens da promiscuidade. Se ela não der comunhão para os casais de segundas núpcias, vai evitar divórcios e novas uniões ilegítimas. Se ela for taxativa contra a homossexualidade, estará combatendo a permissividade sexual. Se ela excluir os “pecadores”, estará combatendo o pecado.
Uma onda rigorista de retorno dos costumes e da moral está se formando. Propondo que a Igreja se endureça nos usos e costumes, principalmente no seu discurso em relação à sexualidade, o que se quer é combater o laxismo, a permissividade e a imoralidade. Mas parece ficar esquecido que o legalismo tem como filho primogênito a hipocrisia, prática terrivelmente combatida por Jesus nos Evangelhos.
c) O retorno à ortodoxia
“As coisas ficaram muito estranhas na Igreja.” – dizem alguns – “Não há mais seriedade nas celebrações. Elas estão muito diferentes do que eram antes. Ninguém mais obedece ao papa. Ninguém mais age em comunhão com os bispos de suas dioceses. Cada qual inventa sua própria religião e seu jeito de celebrar. As rubricas foram esquecidas”. Destas constatações, conclui-se que é preciso fazer uma renovação. Urge retomar a ortodoxia original da fé. E principalmente a liturgia precisa passar por urgente reforma, voltando-se às origens, valorizando os paramentos, trabalhando o espaço litúrgico, ensaiando os cantos, recuperando o belo e as práticas clássicas de antes, redescobrindo a tradição milenar da Igreja.
De fato, a impressão que se tem é que a liturgia é o lugar onde mais se revela essa perplexidade pastoral. A mesma e antiga missa é celebrada de formas tão diversificadas que chega a causar espanto: missas mais clássicas com cantos gregorianos, missas que parecem ritos enlatados que consistem em ler o jornal dominical, “missas-show”, “missas-afro” e ainda as celebrações “populares”, com o padre sem túnica, com camiseta e boné do MST, consagrando pão de sal e vinho qualquer. Algumas vezes, o fiel não se identifica com a celebração e chega a ter dúvidas se, de fato, aquele é um ritual católico.
Então vem o esforço para voltar à ortodoxia, coluna que sustenta a prática litúrgica da Igreja. Multiplicam-se os cursos, as equipes, os encontros. Dividem-se as tarefas, organiza-se o ritual, ensaiam-se aqueles que servem ao altar. Nenhum erro pode ser tolerado. Mas uma outra ameaça se apresenta: a de enlatar a liturgia, tirando do culto a expressão da vida do povo que celebra. A fidelidade ao papa, à hierarquia e às normas não deveria ser uma desculpa para cercear a criatividade e, assim, causar um engessamento da vida da Igreja, tolhendo o dinamismo da fé.
d) A valorização da pessoa
Jesus sempre valorizou a pessoa humana e por ela deu sua vida. A pessoa deve ser o centro da pastoral. Então, como articular a pastoral em torno dela? Diversas iniciativas se mostram: acolher melhor àqueles que procuram a Igreja, ir atrás da pessoa que se afastou – com visitas, cartões em ocasiões especiais, presença na hora difícil (morte, doença, separação de casais), dar atendimento personalizado (confissão, orientação espiritual), conhecer cada um pelo nome, valorizar os que já estão participando (mandar cartões de aniversário para dizimistas, rezar por eles nas missas quando fazem aniversário), fazer missões de casa em casa. Um verdadeiro marketing católico! Há até pessoas que se especializaram neste ramo, escrevem livros, dão cursos. Tudo muito bem pensado, mas também não seria impossível dizer que o âmago da questão não foi atingido. Nas visitas, os missionários nem sempre sabem o que fazer ou dizer; na orientação espiritual, o padre fica perplexo diante dos problemas que encontra e se sente amarrado por regras, que ele não quer contrariar, embora nem sempre concorde com elas; na acolhida, a secretária tem normas que precisa obedecer. O problema continua!
E nossa reflexão também. Na semana que vem tem mais.
SOLANGE MARIA DO CARMO
DOUTORANDA EM CATEQUESE E PROFESSORA DE TEOLOGIA BÍBLICA NA PUC-BH
AUTORA DA COLEÇÃO CATEQUESE PERMANENTE DA PAULUS EDITORA COM Pe ORIONE (MATERIAL QUE SERÁ ADOTADO PELA DIOCESE DE LORENA EM 2010)
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