sábado, 23 de janeiro de 2010

LITURGIA - Terceiro Domingo do Tempo Comum


São Francisco de Sales, Bispo, Doutor da Igreja (Memória).


Primeira leitura: Neemias 8,2-4a.5-6.8-10
Este é um dia de festa consagrada ao Senhor, nosso Deus

Salmo responsorial: 18(19),8.9.10.15 (R. Jo 6,63c)
A lei do Senhor é perfeita, reconforta a alma

Segunda leitura: 1 Corintios 12,12-30
Ora, vós sois o Corpo de Cristo e cada um é um dos seus membros

Evangelho: Lucas 1,1-4;4,14-21
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu

O livro de Neeminas fala de uma leitura pública e solene do livro da lei de Deus. Nós o chamamos Pentateuco, enquanto os judeus o chamam de "Torah", Lei. Estamos no final do século V antes de Cristo, os judeus, há poucos anos tinham regressado do desterro na Babilônia e a duras penas tinham conseguido reconstruir o templo, as muralhas da cidade e suas próprias casas. Enfrentam a hostilidade de muitos vizinhos invejosos que os imperadores persas haviam permitido que regressassem. É imperiosa agora uma norma de vida pessoal, social e religiosa. Esdras, um líder carismático, oferece a eles essa lei, essa constituição que necessitam, proclamando solenemente, diante de todo o povo reunido, a santa Lei de Deus. Já vimos como o povo respondeu: comprometendo-se a cumprir e guardar a lei, chorando suas infidelidades e, animados por seus lideres, celebrando uma festa nacional: a festa da promulgação da Lei divina. A partir desse remoto dia, quinhentos anos antes de Jesus, até hoje, os judeu orientam suas vidas segundo os mandamentos da Torah ou Pentateuco.

O texto de Lc 4,14ss era um texto sem relevância na vida prática da comunidade cristã até uns 50 anos atrás. Era um texto esquecido, como tantos outros que hoje nos parecem fundamentais. Foi a teologia latinoamericana que o redescobriu e lhe deu significado como um texto capital. Lucas o coloca no início da vida pública de Jesus. Pode não ter acontecido realmente da forma como está relatado (João, de fato, coloca outras passagens como início do seu evangelho), porém foi importante na sua significação. Ou seja, talvez as coisas não tenham ocorrido daquela forma (e não é possível saber historicamente), porém Luca tem razão quando situa esta cena em seu evangelho como um início programático que contém já, em germe, simbolicamente, toda sua missão. Jesus, sem dúvida, teve que confrontar muitas vezes sua própria vida com estes textos proféticos de Isaias.

Parece obvio que Jesus tenha visto sua vida como o cumprimento, como a promulgação daquele anuncio profético da "Boa Noticia para os pobres". A missão de Jesus é o anúncio da Boa Noticia da Libertação. A "ev-angelização" ("eu angelo" = boa noticia) não é mais que uma forma da libertação, a "libertação da palavra". As aplicações são muitas e bem diretas:

- A missão cristã hoje, continuando a historia de Jesus, tem que ser isto mesmo, ou seja: "continuação da missão de Jesus", em sentido literal e direto. Ser cristão, com efeito, será viver e lutar pela causa de Jesus, sentir-se chamado a proclamar a Boa Noticia da Libertação, entendendo-o em sua literalidade mais material também: a "Boa Noticia" tem que ser "boa" e tem que ser "noticia". Não se pode substituir semanticamente pelo "catecismo" ou pela "doutrina". Jesus não veio ensinar "a doutrina"; a "evangelização" de Jesus não foi uma "catequese eclesiástico-pastoral"

- A missão de Jesus não pode pretender ser neutra, "de centro", "para todos sem distinção", não inclinada nem para os ricos nem para os pobres como pretendem tantas vezes os que confundem a Igreja com uma espécie de antecipação piedosa da Cruz Vermelha. O pior que se poderia dizer do evangelho é que foi neutro, que não toma posição, que não opta pelos pobres. A pior ideologia seria a que ideologiza o evangelho de Jesus dizendo que é neutro ou indiferente aos problemas humanos, sociais, econômicos e políticos, porque se referiria somente ao "espiritual"

- É bom recordar uma vez mais: Jesus está longe da benemerência e do assistencialismo. Não se trata de "fazer caridade" aos pobres, mas inaugurar uma nova ordem integral, a única que permite falar de uma libertação real na maioria das vezes que se fala da opção "preferencial" pelos pobres a referencia é claramente relacionada a uma mentalidade assistencial, muito longe do espírito de Lc 4,14ss

- A palavra evangelizadora, ou é ativa e prática na práxis de libertação, ou é anti-evangelizadora. A palavra evangelizadora não é palavra de teoria abstrata. É uma palavra que faz referencia à realidade e a confronta com o projeto de Deus. "Evangelizar é libertar pela palavra" (Nolan). Uma palavra que não entra na historia, que não se pronuncia, que se mentem por cima ou nas nuvens, que não mobiliza, não sacode, não provoca solidariedade (nem suscita inimigos) não é herdeira da paixão do Filho de Deus.

FONTE: PORTAL CLARET

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá. Seja bem vindo (a)!!! Deixe seu comentário. Será bem legal.
Obrigada. Volte sempre!!!!!