sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ministério presbiteral: desafios e perspectivas-2


Para responder a pergunta central que norteia nossa reflexão – Quais as características principais que o povo espera encontrar num presbítero hoje? Ou, em outro formato: Que modelo de presbítero o povo deseja para suas comunidades? –, comecemos retomando a história recente da Igreja.

Desde Trento, quando o modelo de formação em Seminários se impôs – o que foi, sem dúvida, um grande passo e uma conquista de proporções  incalculáveis para seu tempo – um modelo de ministro ordenado foi se delineando: um homem formado nas humanidades, conhecedor da verdade revelada e porta-voz dessa verdade. Quase sempre um homem muito culto, conhecedor de línguas – português, latim, grego, francês em alguns casos –, um bom administrador, exímio orador, um homem de influência na comunidade, de voz ativa, um parceiro fabuloso dos prefeitos ou um adversário terrível destes, um defensor da moral e dos bons costumes, disposto a dar a vida para defender sua grei dos ataques do adversário, quase sempre um homem muito piedoso, não um grande teólogo, mas um homem de fé ao modo de seu tempo. Um pastor que defende seu rebanho e o guia. E que, ao final de seu discurso, diz “Assim seja!” e todos respondem “Amém!”. A voz unívoca da Igreja, por meio de seus legítimos representantes, não encontrava fortes opositores.

Mas com a inevitável chegada da Modernidade, mesmo que tardiamente no Brasil, esse modelo pastor de almas sofreu mudanças. O Vaticano II percebeu isso e tornou-se expoente máximo desta virada. Com a abertura do Concílio para as esperanças e alegrias do mundo(GS, 1), o cristão se reconciliou com o seu tempo, assimilou a inevitável contribuição da razão e o presbítero ganhou nova feição. Um presbítero menos detentor da verdade e mais profeta surge no cenário da Igreja: um homem engajado nas lutas de seu povo, um líder não tão preocupado com a verdade e os dogmas, mas com a vida sofrida e oprimida de sua gente. Ou então um teólogo, um pensador da fé, um professor, um mestre, um doutor – os jesuítas que o digam! Um homem que procura dar razões da sua fé diante de um mundo em processo de secularização. Mundo cujo modelo de cristandade vai ficando cada vez mais distante, mas que, apesar da crescente secularização, ainda se encontrava povoado de cristãos, de pessoas advindas de famílias católicas, que respiravam esse ar sagrado, essa mística católica. Um modelo mais profeta-professor se impôs: um homem cuja piedade ressurge das cinzas de sua gente pisada e da utopia do Reino que Jesus anunciou. Um homem que entendeu que, ao final de seu discurso, não pode dizer mais “Assim seja!” e que o povo não deve dizer “Amém!” tão fácil. Ao final do discurso, é preciso dialogar, ver as realidades distintas de cada gente, julgar as motivações à luz do evangelho, conhecer as razões, pensar a plausibilidade do projeto em cada realidade para agir de forma transformadora.

Nem bem a Igreja se entendeu com a Modernidade e já se vê obrigada a dialogar com um novo tempo, a tão propalada e polêmica Pós-Modernidade. Mas isso é assunto para a próxima semana.


SOLANGE MARIA DO CARMO
DOUTORANDA EM CATEQUESE E PROFESSORA DE TEOLOGIA BÍBLICA NA PUC-BH
AUTORA DA COLEÇÃO CATEQUESE PERMANENTE DA PAULUS EDITORA COM Pe ORIONE (MATERIAL QUE SERÁ ADOTADO PELA DIOCESE DE LORENA EM 2010)

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