A perda que é puro lucro:
exigências do seguimento de Jesus em Mc 8,34-38 presentes no testemunho de Paulo
(1ª parte)
Parece um pouco fora de moda escrever algo sobre Paulo, quando o ano paulino já teve sua vez. A Igreja, como tantos outros setores da sociedade, tem suas modas. E algumas delas pegam, ainda mais no discurso. E os meios de comunicação eclesiais só falam de tal assunto. Foi assim com o ano paulino, com o ano catequético, com o ano sacerdotal, etc. Depois que o vento da novidade passa, tais temas caem um pouco no esquecimento. Paulo é uma figura de tal grandeza para a evangelização e para a vida cristã, que não vale a pena deixá-lo nesse rol do esquecimento. Olvidar um personagem de tal calibre seria um pecado imperdoável. Então, vamos retomar a figura de Paulo e seus testemunhos escritos para conversar sobre um assunto nem sempre muito em voga, mas sempre presente nos relatos dos Evangelhos: a necessária renúncia para seguir Jesus Cristo.
Basta um rápido olhar sobre a catequese dos Evangelhos Sinópticos para perceber a importância da renúncia no seguimento do Crucificado. Marcos delineia o caminho do seguimento; Mateus e Lucas vão seguir suas pegadas, ainda que com pequenas diferenças.
Dos anos 49 até no máximo o ano 67, atuou Paulo de Tarso como teólogo e escritor, evangelizador das nações. Seus escritos antecedem até mesmo os Evangelhos, por isso ele pode ser considerado o pioneiro a elaborar uma reflexão cristã acerca de Jesus Cristo. Sua morte data antes da redação final de Marcos (ano 70 dC). Marcos, provavelmente, teria conhecido Paulo, trabalhado com ele em uma de suas viagens e bebido de sua reflexão teológica. Mas, independente dessa hipótese aceita por biblistas renomados, é inegável a semelhança da pregação paulina com a pregação marcana. Podemos citar algumas poucas aproximações (cf. 1Ts 4,9 e Mc 12; 1Ts 4,13-18 e Mc 13), e a partir daí nos perguntar se isso não é indício do “Evangelho de Paulo” (cf. Gl 1,8.11) que transparece no Evangelho de Marcos. Essa hipótese da influência paulina sobre Marcos já é conhecida no meio acadêmico. A partir dela, ensaiamos uma aproximação entre Mc 8,34-38 e textos paulinos presentes em Fl 3,1-14 e 2Cor 11,21-28. Para você acompanhar bem a reflexão, seria bom ter em mãos a bíblia para ler os textos. Talvez sua tradução esteja um pouco diferente da que eu vou apresentar no texto; é normal isso. Mas é bom seguir uma edição boa, pois na tradução escapam alguns detalhes importantes que fazem diferença na compreensão da mensagem. Para citar Mc, Lc e Mt, eu vou seguir KONINGS, J. Sinopse dos Evangelhos. São Paulo: Loyola, 2005. Provavelmente você vai estranhar o texto. Ele tem mesmo umas estranhezas que vem de o fato de ele ser uma tradução literal do grego para fins de estudo nas faculdades de teologia. Mas mesmo assim vou segui-lo, pois suas intuições são preciosas. Você pode seguir, por exemplo, a bíblia da CNBB, que tem uma tradução bem confiável. É o que eu vou fazer com as passagens das Cartas Paulinas. Cf Bíblia Sagrada – Trad. CNBB, 5ª. ed. São Paulo/Brasília: CNBB/Canção Nova, 2007.
Vamos começar nossa aproximação com uma leitura cuidadosa do texto de Marcos, que é nosso ponto de partida, e depois de Mateus e de Lucas. Leia nessa ordem as citações. Primeiro acolha a Palavra. Deixe-a penetrar em seu coração e sua mente. Deixe Deus falar a você por meio da Escritura. Leia, medite, reze. Depois, compare os três relatos. Veja se as narrativas têm diferenças notáveis. Em seguida, leia os textos de Paulo (Fl 3,1-14 e 2Cor 11,21-28) e faça o mesmo. E veja se há alguma semelhança entre o que Paulo diz experimentar e o que Marcos, Mateus e Lucas dizem sobre as exigências do seguimento de Jesus.
Na semana que vem, quando você estiver bem impregnado dos textos, vamos meditar sobre as exigências que Marcos relata para quem quer seguir Jesus e vamos deixar sua beleza e profundidade nos cativarem. Na outra semana, vamos nos ater mais ao apóstolo Paulo e à sua vida de renúncia por amor ao Evangelho.
Boa leitura e até semana que vem!
Solange Maria do Carmo
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