CAMINHOS DE EXISTÊNCIA

3. A SABEDORIA DO CAMINHO

O judeu rezou os dois caminhos no Salmo 1. A literatura sapiencial reforçou esse discernimento. No livro dos Provérbios, o sábio, do alto de seus anos, volta-se para o ouvinte e diz-lhe: “Meu filho, escuta e recebe minhas palavras, e serão longos os anos da tua vida”. Instrui-o no caminho da sabedoria. E aponta a disciplina como fonte de segurança e justeza de vida (Pr 4,10-14).

Na intuição do sábio, a felicidade da geração jovem assenta-se na experiência dos mais velhos. À medida que os jovens atenderem às admoestações e conselhos dos maiores, encontrarão o caminho da felicidade. Ouvido, olhos e coração deles se voltam para as palavras prudentes vindas dos ancestrais (Pr 4,20-21).

Hoje tal discurso se torna quase inacessível. A cultura atual não preza a tradição, e sim a experiência pontual que cada jovem faz. Fica, no entanto, essa lição bíblica para sua reflexão. Que não soe em vão sabedoria tão excelsa a ponto de os judeus reconhecerem nela mais que simples palavras de um sábio do povo, e sim o ressoar da revelação do próprio Javé.

O sábio parece ainda mais incisivo ao alertar os ouvintes sobre os engodos do caminho dos ímpios. Afasta-te dele, exorta o sábio. Não o atravesses, segue ao lado. Eles não dormem sem ter cometido crimes, perdem o sono se não fazem o mal a alguém. Com metáforas pesadas, o sábio invectiva os ímpios: comem a maldade como pão e bebem o vinho de violências (Pr 4,14-16).

Termina a exortação com outra bela imagem. O justo brilha como a aurora que se vai iluminando até ficar dia. Enquanto o caminho dos maus se faz trevas e eles tropeçam por toda parte (Pr 4,18-19). Fica a lição para as gerações novas.

J. B. Libanio, sj

TEXTO PUBLICADO NO FOLHETO "O DOMINGO"