26. AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
O grito ecológico lancinante nasce do olhar para a água. À primeira vista, esse bem parece tão abundante, que mereceríamos o nome de planeta Água e não Terra. A imensa maioria dela mora nos oceanos. Mas mesmo a água doce flui abundante por rios e descansa em lagos e açudes. Isso nos salta aos olhos. E por que então os ecologistas anunciam que uma das preocupações maiores da humanidade em breve futuro se voltará por causa da insânia humana de poluir, envenenar rios e lagos, destruir vidas nos mares e transformá-los em cemitérios líquidos.
A pequena consolação de que, ao cavarmos o solo, encontramos lençóis freáticos abundantes não nos salva. Pois eles têm sofrido forte agressão poluente. Tanto uma agricultura carregada de agrotóxico como a criação de animais à base de tratamentos poluidores terminam envenenando as águas de baixa profundidade.
Nesse cenário cinza, desponta como raio de luz esperançoso a identificação do aquífero Guarani, que se estende pelo Brasil, pela Argentina, pelo Uruguai e pelo Paraguai. Essas águas subterrâneas talvez sejam as mais abundantes do planeta, tendo volume maior que todas as águas dos rios e lagos da Terra. Pesquisadores lançam a público dados esperançosos.
Trata-se de verdadeira cadeia gigantesca, com aproximadamente 1,2 milhão de quilômetros quadrados, de rochas arenosas, saturadas de água, a uma profundidade de 70 a 800 metros. Imensa parte está no Brasil. Por enquanto, segundo estudiosos, essas águas ainda escapam da contaminação de tantas outras fontes de água. Então, mais uma vez, está em jogo a nossa racionalidade e equilíbrio. Tesouro de alto valor estará exposto à insânia da contaminação se o Estado e os cidadãos não se armarem de consciência e luta política para defende-lo.
J. B. Libanio, sj
TEXTO PUBLICADO NO FOLHETO “O DOMINGO”
MARCADOR: ECOLOGIA E MISSÃO
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