A palavra tradição faz pensar em algo que recebemos, conservamos e passamos aos que vêm depois de nós para que a geração futura seja mais feliz (cf. Sl 78, 1ss).
Portanto, é em si uma coisa boa com bons objetivos. Mas nem sempre é assim, como no caso dos que são católicos por tradição e batizam seus filhos “porque sempre foi assim”. Tradição, tradição.
Entendida sob esse aspecto, a tradição se torna um peso e não favorece a vida. Mais ainda, quando se trata de tradição religiosa, ela engessa a religião, impedindo-a de caminhar à altura dos tempos e de iluminar a história da humanidade. Além disso, faz uma caricatura ridícula de Deus. É o que se conclui lendo Mc 7,1ss.
Os fariseus e alguns mestres da lei conservaram muitas coisas da tradição dos antepassados, defendiam-nas (tinham, para eles, a mesma importância do Antigo Testamento) e condenavam os que não as observassem. Coisinhas que, no máximo, se referiam à higiene pessoal. E incluíam Deus nessa história, amparados pela religião do puro e do impuro. A conclusão é evidente: não lavar as mãos antes de comer seria ato impuro que desagradava a Deus.
A pureza, portanto, segundo eles, viria de fora para dentro das pessoas. E deveríamos, assim, assumir o papel de detetives das pessoas e coisas impuras como prova de amor à religião.
Jesus declara puras todas as coisas e mostra o verdadeiro itinerário da impureza: ela nasce dentro da pessoa, do seu coração, e se manifesta fora, em atos maus, provando que quem faz o mal é a primeira vítima desse mal, aninhado em sua consciência (para o povo da Bíblia, “coração” equivale a “consciência”).
E nós, será que já nos libertamos de todas as tradições que impedem nossa vida e a dos outros?
Pe. José Bortolini, ssp
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