quinta-feira, 29 de setembro de 2011

CAMINHOS DE EXISTÊNCIA


18. O CAMINHO DO COMPROMISSO SOCIAL CRISTÃO

O cristão descobre que a fé em Jesus não o leva a valorizar unicamente a dimensão humana da existência. O Verbo não se fez carne em vão. Outorgou ao ser humano dignidade única de participar da mesma natureza que o próprio Deus assumiu na história. O cristão espelha-se na encarnação do Verbo. Esta não terminou simplesmente no fato de assumir uma humanidade. Ele poderia ter-se encarnado na cidade grega, centro da cultura daquela época, ou na família imperial romana. Não deixaria de ser encarnação.

Mas não. Escolheu o rincão pobre e desconhecido de Nazaré. Viveu na pobreza e simplicidade de um camponês e artesão durante 30 anos. Depois se fez andarilho missionário, anunciando o reino de Deus. Ele, nessa vocação, manifestou a predileção pelos pobres, enfermos, pecadores e marginalizados do tempo.

O cristão contempla esse caminho. Que fazer? Tocado interiormente, assume, em termos de hoje, opção semelhante à de Jesus. Engaja-se socialmente em nome da fé. Distingue-se do militante político comum, não pela seriedade nem pela causa, mas pela motivação e horizonte de sentido. Move-o o desejo de seguir a Jesus. Descortina-se-lhe sentido diferente que o leva até a entrega da vida. Não poucos o fizeram, como dom Romero, até o derramamento do sangue.

Acusados de marxistas, na verdade refutam Marx. Pois este dissera que a fé aliena, e esse caminho do compromisso cristão prova o contrário. A fé cristã engaja de maneira heroica. A teologia da libertação alimentou esses cristãos na fé, tanto que não tiveram – como aconteceu em outros momentos da história – de abandonar a fé para comprometer-se com a justiça e a libertação dos pobres. A opção pelos pobres torna-se a chave de compreensão desse caminho.

J. B. Libanio, sj

TEXTO PUBLICADO NO FOLHETO "O DOMINGO"

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