16. O CAMINHO DA SABEDORIA HUMANA SEM DEUS
Outra via sem Deus. Não apela à ciência, mas à mera sabedoria e experiência humanas, feitas à margem de toda tradição religiosa e de fé. Não bebe na fonte da sabedoria do Antigo Testamento, entendida e vivida por Israel e por nós, cristãos, como revelação, em última instância, do próprio Deus.
Agora não. Importa amar somente o que existe hoje, sem olhar com saudosismo para um passado que já não existe. Israel vivia recordando os fatos passados como ações de Deus. Essa via acusa tal atitude de alienante. Só existe de verdade o presente. E a sabedoria consiste em vivê-lo o melhor possível, sem preocupações com o futuro, que também não existe. Realiza, em termos de hoje, a sabedoria de Horácio, que dizia: Carpe diem. Usufrui o presente!
Claro que nem tudo no presente merece ser vivido. Recorremos então à experiência e à ciência, que nos oferecem luzes para entender o que está a acontecer, e aí discernirmos o que fazer. Desalojamos a esperança, como fonte de infelicidade. Ele adia para amanhã um prazer a ser vivido hoje. Posterga o bem porque não pode realiza-lo ou desconhece a história a vir. Pura ilusão! Então nos resta somente o presente conhecido, no qual escolhemos o que nos traz felicidade.
A liberdade humana percebe, dentro da história e nunca fora dela, um excesso que nos impele para a frente. Existem valores que não inventamos. Estão aí diante de nós: amor, beleza, justiça, convivência.
Nada nos resta senão vive-la no dia a dia. Não se trata de nenhum “presentismo” desregrado, nem de balbúrdia existencial, mas de honestidade humana que nos traz a felicidade. Não faz falta nenhuma transcendência além da história. A civilização ocidental, ao longo do século, está a preparar tal caminho. Cabe-nos trilhá-lo.
J. B. Libanio, sj
TEXTO PUBLICADO NO FOLHETO "O DOMINGO"
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