sexta-feira, 10 de junho de 2011

Questões que não querem calar



Para compreendermos melhor essas mudanças de categorias, esse novo jeito de fazer catequese, precisaríamos tentar responder a algumas perguntas, nem sempre de respostas muito fáceis. Vejamos:

Como falar hoje dos sacramentos?
Não vamos pensar que os sacramentos perderam sua importância. Apenas o jeito de falar deles é que precisaria mudar. Ninguém pensa em excluí-los do processo catequético. Mas talvez fosse importante situá-los de forma nova. Essa atualização se faz necessária por causa da mudança que ocorreu na mentalidade do povo.
Desde o Concílio de Trento, os sete sacramentos são aceitos sem nenhum questionamento. E desde criança, a gente já sabia que era preciso ir à missa, comungar, confessar-se. Ninguém pensava em constituir família sem passar pelo sacramento do matrimônio. A crisma era também uma necessidade não questionada. Quando o bispo ia fazer visita pastoral, todo mundo sabia que era preciso crismar. O que se questionava então era mais a história de cada sacramento e sua doutrina. A catequese tentava responder a perguntas como: “O que é tal sacramento? Qual o ensino da Igreja sobre ele? Quais as condições de validade de cada sacramento?”. Era mais um estudo dogmático e canônico dos sacramentos.
Acontece que hoje as pessoas já perderam o referencial axiológico da vida sacramental, ou seja, perderam-se aqueles valores básicos, antes cultivados em família, que nos faziam encarar os sacramentos como algo que não se questionava. Hoje, a pergunta não é mais “O que é este sacramento?”, mas “Para que serve esse sacramento?”, “Qual o sentido e a utilidade dos sete sacramentos?”, ou “Será que eles realmente significam e realizam algo?”. A catequese se vê, portanto, desafiada a responder questionamentos mais profundos.
Será preciso ajudar as pessoas a assumirem os valores que servem de base para a compreensão e a vivência dos sacramentos. Assim, antes de explicar o que é a eucaristia, será preciso ajudar a pessoa a perceber a presença viva de Jesus que continua vivo e presente no meio de nós; antes de falar de confissão, será preciso cair em conta acerca da fraqueza humana, pois não somos tão potentes como chegamos a pensar um dia; antes de falar de crisma será necessário mostrar as vantagens e o sentido do engajamento do jovem na Igreja e no mundo, a beleza que é pertencer a um povo de fé e nessa comunidade professar a fé, confirmando-a cada dia.
Mais importante que teorizar sobre os sacramentos, é criar a base axiológica que sustenta sua vivência. Desse modo, quando a catequese apresenta Jesus e desperta a admiração por ele e a compreensão do sentido de sua presença viva, está no universo da eucaristia, embora não parta do sacramento. E quando ajuda a descobrir o sentido da pessoa humana com sua força e sua fraqueza, com sua sede de crescer sempre mais, de ser feliz, de superar-se, de perdoar e ser perdoado, a catequese está tratando da confissão, embora não parta do sacramento.
Enfim, para que a catequese prepare a pessoa para a vivência sacramental, não é preciso que haja, no roteiro, uma lista com os sete sacramentos para se decorar. Isso é o que chamamos de mudança de categorias. A nossa observação serve para o ensino de toda a doutrina da Igreja que, sem ser abandonada, precisa ser reformulada. A transmissão da doutrina precisa ser feita, pois é parte do processo catequético dar razões da fé. Mas esse encontro com a fé da Igreja traduzida em sua doutrina surtirá melhor efeito se for realizado de modo novo, repensando as formulações da fé.

 Textos da professora Solange Maria do Carmo em parceria com o Pe Orione Silva e que serão publicados em formato de um livro, pela editora Paulus, com o título Catequese permanente: fundamentos e organização.

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