sexta-feira, 24 de junho de 2011

Como fazer uma catequese inspirada no catecumenato?



O catecumenato foi marcante para a Igreja nos primeiros séculos. Depois se perdeu, no tempo da cristandade. Agora, a própria cristandade se perdeu. E a Igreja sente falta de uma formação com aquelas características, que realmente despertava a pessoa para o seguimento de Cristo. A inspiração catecumenal surgiu como tendência para a catequese de adultos. Depois foi pensada como inspiração para toda a catequese.
Alguns mais afoitos pegaram a onda do catecumenato simplesmente adaptando as rubricas do Ritual da Iniciação Cristã dos Adultos (RICA). Tentaram sair da catequese sacramental e caíram na catequese do ritual. Substituíram os sacramentos, que não celebramos bem nem vivenciamos adequadamente, por ritos antigos e desconhecidos, que também não significam muito hoje. Outros passaram a chamar os encontros de catequese de catecumenato, mas mantendo o objetivo de preparar para os sacramentos. E alguns ainda fizeram algo mais extravagante: passaram a levar a turma de catequese para a missa até o final do Rito da Palavra. Quando se passa para o Rito Sacramental, com o ofertório, a turma sai para a sala ao lado para fazer catequese. “Como faziam as comunidades primitivas”, dizem eles! Como se bastasse copiar um costume dos séculos III e IV depois de Cristo, ou seja, que dista 16 séculos da nossa realidade, para fazer catecumenato.
A inspiração catecumenal sugere, a nosso ver, que façamos uma catequese mais organizada, seguindo aquilo que nos propõe com muita lucidez o Manual de Catequética, do CELAM (cf. p. 108).
A catequese deve ser um processo de iniciação integral. Quando falamos de catequese como iniciação, não partimos mais do pressuposto de que as pessoas já tenham feito sua experiência de fé no Ressuscitado, que elas já tenham conhecimento de Cristo e precisem apenas melhorar o seu conhecimento da doutrina católica. Precisamos partir da base e oferecer elementos que ajudem a pessoa – seja criança ou adulto, batizado ou não – a fazer o seu encontro com Deus, uno e trino, como no começo da era cristã. Iniciar é introduzir, é mergulhar, é provocar, é desafiar, é criar condições propícias para que a pessoa possa fazer uma experiência de tal forma marcante que haja um antes e um depois dela. E essa iniciação é integral, ou seja, diz respeito à vida toda da pessoa. Não é possível iniciar o intelecto e não iniciar os afetos; como não é possível iniciar os afetos e não iniciar a sexualidade, ou iniciar as relações interpessoais e não iniciar outra dimensão da pessoa humana. Porque a pessoa humana é um todo integrado e não um ser dividido.
A catequese deve ser um processo dinâmico, gradual e progressivo. Isso significa que deve estar organizada de modo a oferecer não mais um pequeno conjunto de normas e definições que a pessoa possa decorar, como se fazia nos catecismos de inspiração tridentina. É preciso oferecer oportunidade para a pessoa aprofundar a sua fé em um processo que vai crescendo e acompanhando toda a vida da pessoa. Trata-se de apresentar a fé da Igreja, inclusive os valores cristãos e a doutrina da Igreja, mas de modo profundo e bem sistematizado, evitando a improvisação e a preparação apressada para os sacramentos.
A catequese seja marcada por ritos que expressem os passos dados no itinerário da fé. Isso quer dizer que a fé tem um itinerário: um itinerário que visa ao mergulho da pessoa no mistério pascal. Para isso, a catequese exige ser mais celebrativa, mais litúrgica; uma catequese que lida com o mistério e não com a decifração do dogma. Catequese não é uma aula de doutrina, não é um curso; é um itinerário, um percurso, um caminho de discipulado. E como toda caminhada ou itinerário está marcada por momentos de parada para beber na fonte, para se refrescar, para se alimentar, reabastecer as forças e fazer novos compromissos. Que a catequese seja um encontro com Jesus, um mergulho no mistério da fé e não um ato de ensinar e aprender conteúdos!
A catequese seja comunitária e leve a pessoa à comunidade. Isso significa que a fé é vivida em comunidade. Não inventamos a fé cristã. Nossa fé é apostólica, nos foi transmitida. Nós a recebemos de uma comunidade que a professa, celebra e vive. Não construímos a fé ou a doutrina católica num processo de bricolagem, ajuntando peças e pedaços de outras crenças, como em um restaurante em que cada pessoa serve uma porção de alimentos de que mais gosta até ter seu prato. A catequese deve levar a pessoa a perceber o alcance da fé da Igreja, deve ajudá-la a pertencer a uma comunidade eclesial, a viver a fé na Igreja e como Igreja.
A catequese seja um processo que comprometa as pessoas, leve-as à conversão e as ajude a se orientarem no horizonte dos valores evangélicos. Isso significa que a catequese deve despertar na pessoa o desejo pela vivência coerente do evangelho, gerando um compromisso ético com o Reino de Deus. Porque fé e vida não são duas coisas separadas. A fé cristã é fé vivida e, se não for assim, não é fé cristã. Ela é uma unidade inseparável. Não é que por causa da fé estejamos obrigados a praticar boas ações. É muito mais! É que a fé no Deus uno e trino comporta em si a unidade e a relação. Viver aquilo que se professa é ser uno, é não ser ambíguo, dividido, A unidade do ser humano tem como fundamentação a unidade do próprio Deus. Seríamos esquizofrênicos se professássemos que Deus nos foi dado como Pai em seu filho Jesus Cristo e isso não nos irmanasse num compromisso ético uns para com os outros, na solidariedade e comunhão. Seria totalmente estranho se nos fechássemos em nós mesmos, em egoísmo e narcisismo quando Deus é relação: Pai, Filho e Espírito Santo. Nossa condição de possibilidade de abertura para o outro e de comunhão profunda com Deus vem do próprio Deus que é comunhão, relação e abertura.
Vejamos que todas essas exigências nos desafiam a ter muito cuidado com o conteúdo e com o método do processo catequético. Não é tão simples assim inspirar-se no catecumenato. Nem basta dizer que a paróquia adotou o catecumenato crismal. Precisamos construir todo um processo que de fato ajude as pessoas a terem o seu encontro com Cristo, conhecerem seus ensinamentos e se comprometerem com a vivência do evangelho.

  Textos da professora Solange Maria do Carmo em parceria com o Pe Orione Silva e que serão publicados em formato de um livro, pela editora Paulus, com o título Catequese permanente: fundamentos e organização.

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