Catequese no cenário da Pós-Modernidade - 6
a) 1ª tarefa: Aprofundar a necessidade do caráter evangelizador da catequese.
Parece tautológico falar de catequese evangelizadora. Toda catequese certamente é evangelizadora, assim como toda evangelização catequiza. Essas duas ações da Igreja estão intrinsecamente unidas e de tal forma entrelaçadas que é difícil distingui-las e defini-las separadamente. Mas há de se admitir que, ao longo da história da Igreja, à evangelização foi atribuída a tarefa do Primeiro Anúncio e à catequese a missão de aprofundar a vivência cristã. Com o passar do tempo, a prática catequética empenhou-se em dar a conhecer a doutrina católica e em ajudar o catequizando a viver nos moldes da ética cristã. Isso pode ser facilmente observado nos manuais catequéticos: quase nada da boa-nova central da fé e muito de mandamentos, sacramentos e doutrina. Foi observando essa realidade que surgiu a expressão “catequese evangelizadora”: um pleonasmo necessário diante da realidade de manutenção da fé que a catequese foi assumindo.
Trata-se, então, de compreender a catequese como evangelização, um desafio posto pela Pós-Cristandade. Como sugere Alberich, partindo de “um olhar realista e esperançoso, sem nostalgias do passado” , os tempos atuais exigem da catequese uma dimensão evangelizadora, de primeiro anúncio para aqueles que não conhecem ainda o evangelho de Jesus, apesar de já serem batizados . Eis o primeiro problema: reconhecer que, na estrutura pastoral tradicional da Igreja, a evangelização sempre se apresenta como algo muito secundário – uma tarefa esquecida . Povoa nossa cabeça a compreensão de que a evangelização tem como destinatários os não-cristãos, que entre nós haveria bem poucos! A evangelização parece oportuna para terras de missões, o que não seria o caso do Brasil atualmente, com sua maioria absoluta católica.
Acontece, porém, que o fato de os destinatários da catequese serem – quase sempre – pessoas batizadas não dá o garante de que elas sejam evangelizadas. Partir desse pressuposto seria falsear uma realidade que se impõe a olhos nus. Não é preciso muito esforço para perceber que se quebrou o espelho da Cristandade, onde o sujeito crente se via como tal por incorporação numa cultura cristã. Reconstituir esse vidro não traz de volta o espelho intacto. O máximo que poderia fazer é apresentar um mosaico com as mesmas peças, mas a imagem refletida é fragmentada, torta, múltipla, sem feições de um autêntico crente: um monstro marcado pela deformação de sua figura genuína.
O catequeta francês Denis Villepelet não tem receios de assumir essa realidade da Cristandade que se partiu definitivamente . Para ele, reconstituir esse quadro e lutar contra a nova configuração que se impõe é colocar remendo novo em panos puídos. Não tem mais jeito! Pensando nisso, ele prefigura a pintura de um novo paradigma catequético, com contornos evangelizadores, ainda não bem definidos – como tudo que é novo! –, mas com a tinta forte da boa-nova de Jesus e da tradição da fé apostólica. Dentro desse novo paradigma, a função evangelizadora da catequese é chamada a sair de sua “situação de borralheira e subir na ribalta da reconstrução operante de todos os serviços eclesiais” .
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Cf. ALBERICH, Emilio. Catequesis evangelizadora y pedagogia de iniciación: nuevos impulsos para la catequesis en un reciente documento de los obispos franceses. Catequética, v. 48, n. 4, p. 218-227, 2005. p. 218.
SOLANGE MARIA DO CARMO
DOUTORANDA EM CATEQUESE E PROFESSORA DE TEOLOGIA BÍBLICA NA PUC-BH
AUTORA DA COLEÇÃO CATEQUESE PERMANENTE DA PAULUS EDITORA COM Pe ORIONE (MATERIAL QUE ESTÁ SENDO USADO EM NOSSA DIOCESE)
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