sexta-feira, 5 de março de 2010

Ministério presbiteral: desafios e perspectivas-8


Para encerrar nossa reflexão sobre o ministério ordenado,

Voltemos à pergunta original: O que os católicos esperam do ministro ordenado que a Igreja lhes destina?

Em primeiro lugar, vimos que, no atual momento, partir do pressuposto de que o católico já fez sua experiência de Deus e já conhece Jesus Cristo é muito arriscado. Por isso, o ministro ordenado é atualmente desafiado a desenvolver um trabalho de revelação mais que um trabalho de explicação e de expressão de uma fé já vivida.  E como já dissemos, a tomada de consciência da virada epocal nos anima a propor a passagem de um modelo de presbítero, que mantém e garante a fé – por meio de uma pastoral de manutenção (DA, 366 e 370) –, a um presbítero que favoreça o encontro com Jesus Cristo e promova a descoberta da singularidade cristã, fazendo dessa experiência uma mediação fecunda para a busca da identidade do sujeito contemporâneo.

Em segundo lugar, é preciso pensar que em sociedades de mudanças tão rápidas, o futuro se torna incerto demais. Diante dessa incerteza, o indivíduo se encontra constrangido para se movimentar, sem perspectiva e sem projeto. Essa incerteza provocada pelo excesso de mobilidade e de velocidade torna-se irritante e confina as pessoas ao recuo sobre si mesmas, desenvolvendo uma desconfiança muito forte no que diz respeito a toda forma de esperança. Para se construir como sujeito, o indivíduo não pode mais se entregar a uma ordem das coisas que antes eram certas e evidentes. Nada é tão certo mais. Fernando pessoa dizia: “Deito e durmo, e sei que a Primavera é certa!”. Já não vivemos essa certeza da primavera que virá. No mundo multi-referencial contemporâneo, torna-se urgente cada um elaborar suas próprias referências, se não quer morrer de overdose de informações. Esse é um trabalho solitário, sofrido, complexo e geralmente conflituoso. A liberdade do indivíduo tornou-se sua grande exposição. Sem certeza, ele se agita a construir uma identidade que não seja fútil, tola, vazia. O trabalho do ministro ordenado é, pois, mais o de ajudar cada um a construir sua própria identidade que o de lhe dar certezas. Na sinfonia de vozes que ressoam desarmoniosas na sociedade, a Igreja é interpelada a ser essa voz suave, aquela que anuncia o sussurro criativo da boa nova e motiva o católico a simplesmente ser, num processo de contínua construção de sua interioridade. 

Então, torna-se urgente pensar como difundir o bom rumor do evangelho na situação ocidental e mundial contemporânea. Poderíamos nos perguntar: “Como anunciar a boa nova de forma que ela seja crível?” Nós não podemos nos dispensar de uma reinterrogação fundamental sobre a maneira de conceber o testemunho da fé nas sociedades. O presbítero é convidado, pois, a pôr mãos à obra e buscar novo ar fresco para as problemáticas do anúncio da boa nova hoje. Não basta manter os católicos na Igreja, nem manter as pastorais e os movimentos da Igreja em funcionamento. É preciso ir além da pastoral da manutenção, favorecendo aos católicos a verdadeira experiência da fé e a construção de sua identidade cristã.

Para isso, pensa-se num presbítero que seja mais um mistagogo que um professor; um catequeta mais que um teólogo, um pastoralista mais que um gerente ou administrador. Oxalá nossos seminários, casas de formação e institutos de teologia e filosofia favoreçam esse novo perfil dos ministros ordenados!


SOLANGE MARIA DO CARMO
DOUTORANDA EM CATEQUESE E PROFESSORA DE TEOLOGIA BÍBLICA NA PUC-BH
AUTORA DA COLEÇÃO CATEQUESE PERMANENTE DA PAULUS EDITORA COM Pe ORIONE (MATERIAL QUE SERÁ ADOTADO PELA DIOCESE DE LORENA EM 2010)

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