sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Como fazer uma catequese de iniciação?



A questão da iniciação cristã é discutida em diversos documentos da Igreja, com abordagens diferenciadas. O conceito de iniciação não é tão simples assim.
Antigamente, vigorava a ideia de que a iniciação cristã se devia fazer na família. Os pais, primeiros catequistas, eram os iniciadores, porque conduziam os filhos, com seu testemunho cristão, à vivência dos mistérios da fé. Depois disso, a catequese comunitária oferecia uma melhor compreensão da doutrina cristã, para pessoas que já tinham a vivência da fé como uma herança da família. Parece que vem daí a distinção, sempre presente nos documentos da Igreja, entre evangelização (que serve para iniciar) e catequese (que serve para aprimorar); ou entre primeiro anúncio e aprofundamento da fé. Aos pais cabia fazer o primeiro anúncio; à catequese cabia aprofundar a fé.
Atualmente, sem menosprezar o papel da família, parece que não podemos contar apenas com o testemunho dos pais, para iniciar os filhos na fé. A própria Igreja já percebeu isso em seus documentos. Como a família, há bem tempo, já não cumpre mais o papel de iniciadora na fé, na maioria dos casos, acabamos catequizando pessoas não iniciadas no mistério cristão; ou seja, acabamos dando um verniz de doutrina a pessoas para quem a fé cristã não havia ganhado ainda um sentido maior de interioridade. Essas pessoas aprenderam o que a Igreja ensina, mas não fizeram disso uma vivência do mistério cristão.
Desse descompasso, surge então a constatação de que é necessário fazer uma catequese iniciática, que antes de formar na fé, ou ao mesmo tempo em que forma na fé, dá à pessoa oportunidade de ser iniciada na vivência do mistério cristão, ou seja, de realizar o seu encontro pessoal com Cristo. Segundo o Documento de Aparecida, a iniciação cristã inclui o querigma e é a maneira de colocar alguém em contato com Cristo e no caminho do discipulado (cf. DA, 288). Segundo o Diretório Nacional de Catequese, essa iniciação não diz respeito apenas a crianças que estão começando o processo catequético, mas precisa se dirigir a todas as pessoas, seja qual for a idade delas (DNC, 38). Mesmo os adultos precisam ser constantemente iniciados na fé.
Quando dizemos, portanto, que a catequese deve favorecer a iniciação cristã, não estamos apenas propondo que a catequese comece mais cedo, com crianças mais novas. Isso também é importante. Mas os elementos que proporcionam a iniciação cristã, ou o mergulho no mistério cristão, precisam estar presentes em todo o processo catequético, como uma dimensão da formação permanente, como uma pedagogia própria da catequese em lugar da pedagogia escolar ensino-aprendizagem. Assim, crianças, jovens e adultos fazendo a experiência do mistério de Cristo, é claro, estarão também aprendendo doutrina, pois não é possível separar senão pedagogicamente uma coisa da outra.
A catequese como iniciação supõe não somente um conteúdo, mas especialmente um método que exige pedagogia própria. Não é apenas ensinar primeiro conceitos mais elementares, para depois aprofundar a compreensão da fé. É fazer do processo catequético ocasião de encontro com Cristo, sem desmerecer a importância do aprendizado das coisas que ajudam no amadurecimento do seguidor de Cristo. A catequese será de iniciação se for querigmática, mistagógica, litúrgica, narrativa, englobando os conceitos que já vimos acima. Será menos aula e mais encontro. Será menos aprendizado e mais intuição do mistério cristão. Vejam que não estamos diminuindo o valor do aprendizado da doutrina. Dizemos apenas que esse aprendizado somente não forma o discípulo de Cristo. Saber o que é o cristianismo não nos torna um cristão por opção. A iniciação cristã é o processo que nos leva a fazer essa opção e a nos tornar discípulos de Cristo.
Não podemos partir do pressuposto de que as pessoas vêm para a catequese com uma experiência da fé cristã. E, sem essa experiência, a doutrina ou o ensinamento acaba não fazendo muito sentido na vida da pessoa. O processo de iniciação precisa assumir o desafio de apresentar a boa-nova de Cristo como força de interioridade, ou seja, como mistério que ajuda a pessoa a se encontrar, a se realizar. A pessoa iniciada na fé é aquela que percebeu a importância de Jesus em sua vida. Daí, ela vai querer sempre buscar mais e mais Aquele que experimentou como pessoa, Aquele a quem deu sua resposta de fé.
A Igreja ainda fala da iniciação cristã como os passos que desembocam nos sacramentos do batismo, eucaristia e crisma – que ainda são chamados de sacramentos da iniciação cristã.  Mas nos parece que, mesmo para além desses sacramentos, o caráter iniciático da catequese sempre deverá ser valorizado em todos os momentos e em todas as idades.

Textos da professora Solange Maria do Carmo em parceria com o Pe Orione Silva e que serão publicados em formato de um livro, pela editora Paulus, com o título Catequese permanente: fundamentos e organização.

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