Profª Solange Maria do Carmo
Vai e volta a
gente escuta os catequistas dizerem: “Eu trabalho com catequese infantil”.
Todos nós que escutamos esta expressão, logo concluímos que aquela pessoa é
catequista de crianças e não de jovens ou adultos, ou seja, que sua turma é
composta de crianças na faixa etária de mais ou menos 8 a 11 anos. Mas pensando
bem, não parece estranha essa expressão catequese
infantil? Será que é a catequese que é infantil ou o público que é infantil?
Tomara que seja o público! A catequese deve ser sempre um processo sério,
maduro, que ajude a transmitir uma experiência de fé genuína e não algo
infantil ou infantilizante.
Infelizmente,
cristalizou-se entre nós uma catequese bem infantil, no sentido negativo da
expressão. Muitos catequistas acham que, porque o destinatário do anúncio são
crianças, a fé deve ser um teologia rala e rasa, sem densidade espiritual, sem
aprofundamento bíblico. Uma espécie de papinha teológica, mais para despertar
devoções e piedades que para promover um encontro com o Deus vivo. Então,
muitos se desgastam em diminutivos como mamãe
do céu, papai do céu, Jesus nosso amiguinho. Outros se dedicam
a difundir figuras que mexem com a imaginação da criança, tais como anjos e santos
da piedade popular. E ainda tem aqueles que simplificam ou minimizam a força da
Escritura Sagrada transformando-a em histórias bem infantis, desviando-as do
sentido original do texto. Pegam os relatos bíblicos e contam-nos como se
fossem eventos acontecidos, tal qual estão escritos ali, sem nenhuma
necessidade de interpretação: uma espécie de bíblia para crianças. É o caso do
relato da criação, da queda, de Abraão e sua gente, de Sansão e Dalila, de José
do Egito. Tudo bem que as crianças entrem em contato também com o Antigo
Testamento. É muito bom que seja assim, mas não basta transformar esses relatos
em histórias infantis. Eles precisam ser interpretados teologicamente, pois o
autor sagrado quando os redigiu não escrevia uma história real, mas uma catequese
ou teologia que pudesse ajudar sua gente a crescer na fé.
O perigo que
corremos com esse tipo de catequese é de infantilizar a fé. Porque lidamos com
crianças não quer dizer que devemos testemunhar uma fé infantil, sem sólidos
fundamentos, nem que devemos proporcionar uma experiência de fé ingênua e tola
que não se sustente ao longo da vida. Uma catequese assim não prepara um seguidor de Jesus, um discípulo; ela
forma o ateu de amanhã. Quando vier a primeira tempestade da vida, aquele
católico – agora jovem ou adulto – vai ver sua fé ir embora na enxurrada dos
destroços de sua vida. Quando aparecerem os primeiros questionamentos
científicos, sua fé vai desmoronar como um castelo de areia. Quando as
primeiras e sérias decisões precisarem ser tomadas, ele verá que seus
princípios religiosos são frágeis e não lhe dão segurança para seguir seu
caminho. Ele se sentirá traído e enganado, e não apoiado e sustentado pela fé.
Ora, o que a
catequese pretende: ensinar umas historinhas da carochinha ou formar o cristão
de amanhã? O que nós queremos: envernizar a vida das crianças com devoções
populares baseadas em anjos da guarda ou ajudá-las a construir uma
espiritualidade sólida e forte? Será que, quando essa criança crescer, a oração
do anjo da guarda será suficiente para aliviar sua dor na hora da crise? Será
que mandar um beijo para a mamãe do céu será o bastante para afagar seu
espírito abatido na hora do sofrimento? Parece que não! A fé infantil e
infantilizante que temos dado às nossas crianças sucumbe no primeiro vendaval
de emoções da adolescência; ela tem se desfeito mesmo antes do ataque da
racionalidade que vem por ocasião da juventude. Tanto é que normalmente essas
crianças nem têm chegado à crisma (por volta dos 15 anos); despedem-se da
Igreja na primeira e última comunhão.
Pensando nisso,
entendemos que é preciso desde cedo dar às crianças uma experiência de fé
confiável, na dose da criança é claro, mas uma experiência de fé autêntica e
forte que a acompanhe pela vida e com ela amadureça cada dia. Então, em vez de
ensinar orações devocionais, devemos ensinar de fato a rezar, a entrar em
comunhão com Deus. Em vez de transformar Jesus em um amiguinho, melhor
proporcionar uma experiência de seguimento de Jesus de Nazaré. Em vez de
minimizar a dor do Calvário, melhor refletir sobre as maldades humanas. Em vez
de transformar Deus em um papai do céu, que vive brincando com anjos na
eternidade, melhor mostrar que ele é o pai de Jesus Cristo e nosso pai.
Certamente que não vamos transformar Deus em um juiz implacável que fica
anotando pecados lá no céu, com o intuito de vingá-los na hora do juízo. Mas
daí a descaracterizar Deus, transformando-o no “amigo lá de cima”, num velhinho
tipo papai noel ou numa energia cósmica, já parece demais. Em vez de ensinar
que o Espírito Santo é uma pomba, parece mais inteligente mostrar que ele é
Deus conosco. E assim vai. A catequese para crianças não pode e não deve ser
uma catequese infantil, mas adulta, madura, como deve ser toda expressão de fé.
Amenizar os mistérios da fé ou colocar tudo no diminutivo não resolve o
problema catequético. Só nos cria mais um problema com consequências funestas
para o futuro.
Mais artigos da profa. Solange no:
www.fiquefirme.com.br.
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