quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Encontros catequéticos sim, aula de catequese não

Profª Solange Maria do Carmo

“Nossa paróquia está apostando suas fichas numa catequese meio fora do padrão, isso é arriscado!”, dizem alguns. Outros afirmam: “Nunca vi isso: uma catequese onde os catequizandos não usam caderno, nem livro, nem fazem dever de casa!”. E não falta quem questione: “Que catequese é essa que não ensina nada para os meninos? Meus filhos não aprenderam até hoje os sacramentos, nem os mandamentos, nem as orações do cristão!”. Está posta a questão! De fato, não é de estranhar que pais e catequistas estranhem esse novo jeito de fazer catequese. Acostumados como estávamos com o ritmo escolar da catequese, qualquer alteração é logo vista com olhares de desconfiança.
Mas quem disse que catequese é aula? Quem disse que catequese é para aprender coisas, que ela deve ter livro e caderno? Nos artigos anteriores já vimos que esse modelo catequético veio do catecismo de Trento. Mas, bem antes, no tempo dos primeiros cristãos, não era assim. A catequese, chamada catecumenato, não era aula de religião, mas experiência de discipulado. Ou seja, era ocasião para conhecer Jesus, descobrir a beleza de sua proposta e ser mergulhado no mistério do seu amor sem fim. A catequese não trabalhava com a pedagogia do ensino (quando o catequista tem a verdade da fé e a transmite ao catequizando, considerado um cabeça-ôca), nem com a pedagogia da aprendizagem (quando o catequizando, orientado pelo catequista, constrói seu conhecimento de Deus a partir de sua experiência). A pedagogia que prevalecia era a pedagogia da iniciação, ou seja, a pessoa era iniciada na fé, era mergulhada no mundo maravilhoso da fé cristã por meio de orações, ritos, símbolos, celebrações, reflexões, escuta da Palavra de Deus, partilhas... O objetivo não era ensinar à pessoa coisas sobre Deus, nem doutrinas, nem ensinamentos morais... O objetivo era dar aos catecúmenos a experiência cristã de Deus, colocá-los em contato com o Deus de Jesus Cristo que, por meio do seu Filho, se revelou a nós. O conteúdo principal da catequese não era a verdadeira doutrina, nem uma mensagem bonita, mas uma pessoa, que de tanto amor, se entregou numa cruz.
Hoje em dia, a gente está redescobrindo a importância dessa catequese. Quando o papa Bento XVI veio ao Brasil para o Congresso em Aparecida, ele falou uma frase óbvia e simples, que tem sido repetida inúmeras vezes por todos nós. O papa falou que a gente não se faz cristão seguindo uma verdade, nem uma doutrina, nem ensinamentos morais, mas uma pessoa: Jesus Cristo. Mas como conhecer Jesus Cristo? Será que o formato aula será o melhor para esse conhecimento? Bem, pensamos que não. Jesus é uma pessoa e uma pessoa a gente não estuda, a gente entra em relação com ela. Por isso, é tão importante que a base de nossa catequese seja o encontro e não a aula. A gente só conhece uma pessoa depois de muitos encontros e, para falar a verdade, a gente nunca conhece totalmente alguém, por isso é tão importante manter um diálogo amoroso e aberto com as pessoas. É isso que a catequese permanente que algumas paróquias estão adotando está tentando fazer. Ela não quer dar aulas de religião, nem ensinar coisas sobre Deus. Ela quer promover o encontro das pessoas com Jesus. Ela quer ajudar crianças, jovens e adultos a entrarem em relação amorosa com Deus. E isso não se faz numa aula, mas num encontro alegre, animado, divertido, respeitoso, com músicas, orações, partilhas, atividades pedagógicas, celebrações, ritos...
Certamente essa mudança de aula para encontro não vai deixar a catequese perder o seu teor de seriedade. E muito menos vai abolir seu compromisso de dar as razões da fé, por meio da intelecção, da apropriação teológica dos conteúdos da fé. Claro que não! É até o contrário: entendemos que o rigor teológico dos encontros catequéticos deve ser muito grande. É preciso tirar a fé do campo mitológico ou devocional e colocá-la no campo teológico onde de fato ela está. Mas, para isso, os encontros não precisam ser aula, nem pura decoreba, nem ensino religioso. A gente aprende não é só com a cabeça, mas com o coração e com todos os sentidos. Uma criança aprende que a mãe a ama não porque a mãe lhe dá aulas diárias sobre o amor, porque a faz copiar no caderno “Eu te amo!” ou “Devo respeitar e amar a mamãe”, mas porque ela experimenta esse amor e esse respeito diariamente, em cada gesto, em cada cuidado, na relação amorosa que elas constroem.

Assim também acontece na catequese: não é estudando sobre Deus que vamos nos tornar amigos de Deus, discípulos de Jesus. É entrando em relação com ele e com os irmãos de fé. Por isso, uma música bonita que a gente canta, reza e reflete pode nos falar mais de Deus e nos aproximar mais dele do que um discurso chato e intelectualizante, sem nenhuma ligação com a vida. Uma brincadeira que a gente faz pode nos ajudar a guardar no coração muito mais do que uma matéria que a gente copia no caderno. E um momento de oração pode tocar mais o nosso coração que mil palavras do catequista. Nesse novo modelo de catequese que vai surgindo nas paróquias, a fé cristã não está sendo negligenciada; ao contrário, está sendo levada a sério até demais. Acontece que a gente se equivocou quando entendeu que fé é coisa para aprender com a cabeça. A fé é algo existencial que mexe com nossa vida toda. E se ela não falar algo à nossa existência será inútil. Nossos encontros de catequese vão trabalhar essa dimensão existencial e relacional da fé: relação com Deus e com os irmãos.

Mais artigos da profa. Solange no:
www.fiquefirme.com.br.

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