Profª Solange Maria do Carmo
“Nossa
paróquia está apostando suas fichas numa catequese meio fora do padrão, isso é
arriscado!”, dizem alguns. Outros afirmam: “Nunca vi isso: uma catequese onde
os catequizandos não usam caderno, nem livro, nem fazem dever de casa!”. E não
falta quem questione: “Que catequese é essa que não ensina nada para os
meninos? Meus filhos não aprenderam até hoje os sacramentos, nem os
mandamentos, nem as orações do cristão!”. Está posta a questão! De fato, não é
de estranhar que pais e catequistas estranhem esse novo jeito de fazer
catequese. Acostumados como estávamos com o ritmo escolar da catequese,
qualquer alteração é logo vista com olhares de desconfiança.
Mas quem disse
que catequese é aula? Quem disse que catequese é para aprender coisas, que ela
deve ter livro e caderno? Nos artigos anteriores já vimos que esse modelo
catequético veio do catecismo de Trento. Mas, bem antes, no tempo dos primeiros
cristãos, não era assim. A catequese, chamada catecumenato, não era aula de
religião, mas experiência de discipulado. Ou seja, era ocasião para conhecer
Jesus, descobrir a beleza de sua proposta e ser mergulhado no mistério do seu
amor sem fim. A catequese não trabalhava com a pedagogia do ensino (quando o catequista tem a verdade da fé e a
transmite ao catequizando, considerado um cabeça-ôca), nem com a pedagogia da aprendizagem (quando o
catequizando, orientado pelo catequista, constrói seu conhecimento de Deus a
partir de sua experiência). A pedagogia que prevalecia era a pedagogia da iniciação, ou seja, a
pessoa era iniciada na fé, era mergulhada no mundo maravilhoso da fé cristã por
meio de orações, ritos, símbolos, celebrações, reflexões, escuta da Palavra de
Deus, partilhas... O objetivo não era ensinar à pessoa coisas sobre Deus, nem
doutrinas, nem ensinamentos morais... O objetivo era dar aos catecúmenos a
experiência cristã de Deus, colocá-los em contato com o Deus de Jesus Cristo
que, por meio do seu Filho, se revelou a nós. O conteúdo principal da catequese
não era a verdadeira doutrina, nem uma mensagem bonita, mas uma pessoa, que de
tanto amor, se entregou numa cruz.
Hoje em dia, a
gente está redescobrindo a importância dessa catequese. Quando o papa Bento XVI
veio ao Brasil para o Congresso em Aparecida, ele falou uma frase óbvia e
simples, que tem sido repetida inúmeras vezes por todos nós. O papa falou que a
gente não se faz cristão seguindo uma verdade, nem uma doutrina, nem
ensinamentos morais, mas uma pessoa:
Jesus Cristo. Mas como conhecer Jesus Cristo? Será que o formato aula será o
melhor para esse conhecimento? Bem, pensamos que não. Jesus é uma pessoa e uma pessoa a gente não estuda, a gente entra
em relação com ela. Por isso, é tão importante que a base de nossa catequese
seja o encontro e não a aula. A gente só conhece uma pessoa
depois de muitos encontros e, para falar a verdade, a gente nunca conhece
totalmente alguém, por isso é tão importante manter um diálogo amoroso e aberto
com as pessoas. É isso que a catequese permanente que algumas paróquias estão
adotando está tentando fazer. Ela não quer dar aulas de religião, nem ensinar
coisas sobre Deus. Ela quer promover o encontro das pessoas com Jesus. Ela quer
ajudar crianças, jovens e adultos a entrarem em relação amorosa com Deus. E
isso não se faz numa aula, mas num encontro alegre, animado, divertido, respeitoso,
com músicas, orações, partilhas, atividades pedagógicas, celebrações, ritos...
Certamente essa
mudança de aula para encontro não vai deixar a catequese
perder o seu teor de seriedade. E muito menos vai abolir seu compromisso de dar
as razões da fé, por meio da intelecção, da apropriação teológica dos conteúdos
da fé. Claro que não! É até o contrário: entendemos que o rigor teológico dos
encontros catequéticos deve ser muito grande. É preciso tirar a fé do campo
mitológico ou devocional e colocá-la no campo teológico onde de fato ela está.
Mas, para isso, os encontros não precisam ser aula, nem pura decoreba, nem
ensino religioso. A gente aprende não é
só com a cabeça, mas com o coração e com todos os sentidos. Uma criança
aprende que a mãe a ama não porque a mãe lhe dá aulas diárias sobre o amor,
porque a faz copiar no caderno “Eu te amo!” ou “Devo respeitar e amar a mamãe”,
mas porque ela experimenta esse amor e esse respeito diariamente, em cada
gesto, em cada cuidado, na relação amorosa que elas constroem.
Assim também
acontece na catequese: não é estudando sobre Deus que vamos nos tornar amigos
de Deus, discípulos de Jesus. É entrando em relação com ele e com os irmãos de
fé. Por isso, uma música bonita que a gente canta, reza e reflete pode nos
falar mais de Deus e nos aproximar mais dele do que um discurso chato e
intelectualizante, sem nenhuma ligação com a vida. Uma brincadeira que a gente
faz pode nos ajudar a guardar no coração muito mais do que uma matéria que a
gente copia no caderno. E um momento de oração pode tocar mais o nosso coração
que mil palavras do catequista. Nesse novo modelo de catequese que vai surgindo
nas paróquias, a fé cristã não está sendo negligenciada; ao contrário, está
sendo levada a sério até demais. Acontece que a gente se equivocou quando
entendeu que fé é coisa para aprender com a cabeça. A fé é algo existencial que
mexe com nossa vida toda. E se ela não falar algo à nossa existência será
inútil. Nossos encontros de catequese vão trabalhar essa dimensão existencial e
relacional da fé: relação com Deus e com os irmãos.
Mais artigos da profa. Solange no:
www.fiquefirme.com.br.
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