Profª Solange Maria do Carmo
Muita gente
estranha que a catequese não seja aula de religião, nem se dedique mais a
ensinar uma porção de coisas importantes sobre a fé e a Igreja. Alguns dizem:
“Eles só ficam brincando...”. Quem fala assim não conhece bem o novo paradigma
catequético que vem ganhando espaço em muitas paróquias. De fato, os encontros
de catequese são dinâmicos, animados, divertidos até. Vamos falar a verdade.
Até nós adultos, pais e catequistas, preferimos reuniões animadas, encontros
dinâmicos, missas participativas, em vez de palestras enfadonhas, reuniões chatas,
celebrações ritualistas. Ainda mais as crianças, os adolescentes e os jovens!
Um encontro animado, participativo, cheio de dinâmicas, músicas e orações
parece voar e a gente nem vê passar. Mas o fato de o encontro ser animado e
participativo não significa que ele seja sem conteúdo, que a teologia
partilhada seja sem substância, que a fé seja uma água rala sem nenhuma
densidade. Não! É até o contrário! A fé é coisa tão séria, tão importante, que
não dá para transformá-la em uma aula, sem perder o que ela tem de melhor e
mais importante: sua dimensão existencial. Por isso, o novo paradigma
catequético insiste em fazer acontecer encontros bem alegres e prazerosos, como
a vida deve ser, mas sérios e responsáveis, como deve ser nossa postura diante
da vida.
Se tem algo
que de fato mexe com a gente e nos desperta para aprender é a brincadeira.
Precisamos resgatar o prazer de aprender. É bem verdade que a aprendizagem exige
esforço, dedicação, gasto de energia... mas isso não significa que ela não seja
prazerosa. Normalmente, registramos na memória os momentos de prazer intenso,
de emoção transbordante. Quando a emoção toma conta do coração, a cabeça
registra o evento e a gente não esquece mais. Vejamos um exemplo: uma mãe sofre
ao dar a luz a um filho, passa dores, medos, faz renúncias, sacrifícios para
que ele venha ao mundo saudável. E, quando ele nasce, tal é sua alegria, sua
emoção, que toda a dor do parto fica no esquecimento. A cabeça registra a
emoção do momento vivido, a alegria de tomar o filho nos braços pela primeira
vez. Não foi preciso fazer um curso sobre dar a luz, nem sobre como amar os
filhos. Ela aprendeu a amar amando; aprendeu a ser mãe dando a luz, cuidando,
protegendo seu filho... Isso mostra que aprendemos não só com a cabeça, mas com
todo nosso ser. No processo de aprendizagem, a emoção e o prazer são elementos
fundamentais. Daí a importância de os encontros de catequese serem prazerosos,
divertidos, alegres... encontros que emocionam, que tocam o coração.
Quando falamos
que os encontros emocionam não estamos dizendo que eles devem fazer chorar.
Muita gente pensa que Deus tocou seu coração, quando, num encontro, chorou, se
emocionou. Não! A emoção está muito além do choro. Uma pessoa pode se emocionar
e não chorar. E uma pessoa pode chorar, sem uma emoção verdadeira, só por
comoção passageira provocada pelo ambiente. A emoção está ligada ao profundo do
coração, àqueles sentimentos verdadeiros que dão significado aos momentos
vividos. Há muitos sentimentos que mexem com a gente: a alegria, o
arrependimento, a raiva, a confiança, o medo, a insegurança, a tristeza etc.
Eles marcam nossas vidas e fazem os momentos ficarem eternos. Ora a catequese
não dispensa as emoções para se ater somente à intelecção; nem dispensa a
intelecção em nome das emoções vividas. O ato catequético acontece considerando
a pessoa na sua integralidade: a mente que quer dar as razões da fé; o coração
que quer se emocionar e criar laços relacionais; o corpo que quer sentir prazer
de pertencer e participar. Por isso, os encontros catequéticos não são uma
aula. Brincar é coisa séria, apesar de divertida. As atividades pedagógicas,
sejam elas brincadeiras mais animadas ou momentos mais introspectivos e
silenciosos, têm fundamental importância nos encontros. Elas ajudam a assimilar
o conteúdo, a entrosar a turma, a vencer a timidez. Por meio delas o
catequizando se revela, se mostra, vence barreiras, se supera. Elas ajudam a
pôr pra fora as emoções, os sentimentos mais profundos em relação a Deus e aos
irmãos, sentimentos que devem ser revelados. Além disso, elas alegram, tiram o
ar sisudo da religião, afinal – como sempre lembra o papa Francisco – religião
é coisa séria mas não é coisa que combine com mau-humor, com rigorismo, com
intransigência. Os encontros catequéticos devem ser momentos prazerosos que
despertem no catequizando o desejo de participar. Bem diferente de uma aula, a
catequese hoje realiza encontros dinâmicos, que sejam atrativos, que despertem
o desejo de participar. Assim, o catequizando vai frequentar os encontros não
por obrigação ou por interesse de receber algum sacramento, mas pelo prazer de
participar, de fazer seu encontro com Deus e com os irmão de fé.
Mais artigos da profa. Solange no:
www.fiquefirme.com.br.
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