(Solange Maria do Carmo)
A canção
popular de Ivan Lins nos incentiva a construir com coragem e ânimo um novo
tempo. Todo tempo novo traz desafios novos e, com essas novidades, vêm perigos,
riscos, ameaças e também conquistas, alegrias, realizações... Não cansamos de
ouvir sem cessar vozes diversas que insistem que nossos tempos são diferentes
dos antigos. E nem precisaria de gente importante, estudada, cheia dos títulos
dizendo isso para nos convencermos de que vivemos um momento novo da história.
É só reparar o dia-a-dia: são tantas mudanças que chegamos a falar não mais em época de mudança, mas em mudança de época. Ou seja, desponta no
horizonte humano um novo tempo, tão
diferente do tempo vivido até agora, que chegamos a ficar desarmados diante
dele.
Quanta
mudança! E não são apenas mudanças de hábitos, de comportamentos, de gostos, de
interesses... Essa reviravolta mais visível é fácil de perceber, de pontuar
até. Notamos sem grandes esforços a mudança de interesse de nossas crianças se
deslocando das brincadeiras de roda para os jogos no videogame, para o mundo
virtual do computador. Ou ainda a mudança de hábitos das famílias, que antes
rezavam o terço no fim do dia em torno da imagem da Virgem Maria e agora os
familiares que nem sequer se reúnem uma hora do dia, pois cada um trabalha,
estuda e se agita atrás de seus interesses, sem hora para chegar em casa. São mudanças bem
mais profundas do que essas: elas dizem respeito ao modo de entender a vida e
de se posicionar diante dela, de entender as relações humanas e de
construí-las, de entender a gente mesmo e fazer investimentos em nós. São valores antigos
e já cristalizados que são transformados: alguns são abandonados, outros
afloram com força no panorama social. Vejamos: Há alguns anos atrás, a
preocupação ecológica não se encontrava entre nossas prioridades, a defesa do
direito das minorias não fazia parte do rol de nossas lutas diárias. A vida se
organizava de outro jeito; a família tinha um único formato. Mas as coisas
mudaram, nossos valores não são mais os mesmos...
E com a
chegada de novos valores e novos sistemas de organização da vida – nem bons nem
ruins, mas apenas diferentes –, a Igreja se vê desafiada a continuar a pregar o
evangelho de Jesus e a anunciar que ele é força para viver. Ela se sente
interpelada a dar o testemunho de que Jesus está vivo e continua atuante neste
mundo, manifestando seu amor e sua presença bondosa junto de nós. A Igreja sabe que um tempo (ou uma época) não
é melhor que outro. Em todo momento, em toda cultura, em todo espaço da
história, Deus age, manifesta seu amor misericordioso a todos os seus filhos
queridos. Deus não para de nos amar porque agimos diferente de antes, gostamos
de coisas diferente, pensamos diferente. Deus ama infinitamente cada um de nós
e por isso mesmo não podemos parar de testemunhar esse amor. Mas como fazê-lo
agora que o mundo mudou? A Igreja tem consciência também que não é possível em
tempos novos, continuar com discursos antigos, com explicações teológicas que
caducaram no tempo, com práticas piedosas e devocionais que não atraem mais
nossa gente, com argumentos e práticas religiosas que não encontram mais
pertinência no chão da nossa vida. Então, é hora de mudança também na Igreja.
As mudanças
que a Igreja vem fazendo e precisa fazer dizem respeito às suas diversas áreas:
área teológica, moral, litúrgica, pastoral e outras. A necessidade de
atualização se alastra por todos os cantinhos da fé cristã, não deixando imune
nenhuma delas. Interessa-nos, porém, nesta série de artigos que preparamos,
falar da mudança catequética que começa a ganhar voz e vez na prática eclesial
que algumas paróquias começam a implantar. Quem trabalha na pastoral
catequética, quem faz catequese ou tem seus filhos na catequese destas paróquias
vai sentir essa mudança. Mudança geral: no material que a catequese vai adotar,
na teologia veiculada a esse material, na didática dos encontros, no processo
catequético como tal, na recepção dos sacramentos, na organização das turmas e em
muitas outras coisas. E a mudança maior será esta: a catequese vai deixa de ser
mera preparação para os sacramentos e passa a ser uma caminhada de discipulado,
uma catequese permanente. A criança entra na catequese não mais para fazer
primeira comunhão ou crismar, mas para conhecer Jesus e se tornar seu amigo,
seu discípulo. A primeira comunhão e a crisma serão uma consequência dessa
caminhada, um marco importante nesta jornada de seguimento. Os pais vão ser
beneficiados com as mudanças, pois as paróquias vão acompanhar o processo formativo
mais de perto ainda e isso vai dar segurança no percurso. Os catequistas vão
ser beneficiados, pois receberão formação mais específica para exercer seu
ministério. As crianças vão ser beneficiadas pois a linguagem sólida e, ao
mesmo tempo, de fácil compreensão vai tornar os encontros mais animados e
atrativos. Muita brincadeira, muita música, muita alegria vão ser a marca dos
encontros. Nada de aula de catecismo; agora teremos encontros de catequese.
Para um novo tempo, uma nova catequese. Nos próximos números, continuaremos
nosso papo sobre esse assunto.
Mais artigos
da profa. Solange no:
www.fiquefirme.com.br.
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