Profª Solange Maria do Carmo
“Bença, mãe!
Tô indo pro catecismo” ou mais recentemente: “Tchau, mãe, tô indo pra aula de
catequese!”. E juntando sua pastinha com livro, caderno, lápis, borracha e
caneta lá iam as crianças fazer o catecismo
ou o curso de catequese. Quantas
vezes ouvimos falar aula de catequese?
E professora ou aluno de catecismo? E não passamos nós mesmos por arguições ou
provas para ver se podíamos fazer a primeira comunhão? Em algumas paróquias implantou-se
até o dever de casa, feito só pela criança ou com a ajuda dos pais. E o caderno
ficava cheio de anotações religiosas. A identificação entre catequese e aula de
religião que ainda hoje se impõe na prática pastoral vem de outros carnavais,
ou melhor, de práticas catequéticas bem antigas. Vamos elencar duas fases
diferentes desta catequese: a primeira
tem raízes na reforma protestante e no Concílio de Trento (o catecismo) e a
segunda na renovação catequética que se firmou no Concílio Vaticano II (o
curso de catequese).
A primeira fase se deu num tempo em que a
Igreja católica se viu ameaçada pelo protestantsmo. Neste contexto, era preciso
ensinar a fé cristã. O Concílio de Trento providenciou isso por meio do
catecismo dos párocos. E muitos outros surgiram neste período. Era preciso dar informações
sobre a fé cristã católica: os mandamentos da lei de Deus, os sete sacramentos
com sua doutrina, as leis da Igreja, as principais orações que deviam ser
decoradas, as perguntas do catecismo que deveriam estar na ponta da língua no
dia da arguição.
E o catequista
perguntava: “Quem é Deus?”, “Quantos Deus há?”, “Onde está Deus?” e assim por
diante. Para cada pergunta, a resposta vinha pronta e certeira. “Deus é um
espírito perfeitíssimo, criador do céu e da tera”; “Há um só Deus em três
pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo”;
“Deus está no céu, na terra e em toda parte”. Ainda hoje me lembro das
aulas de catecismo que frequentei quando criança. E guardo na memória as respostas
de difícil compreensão que fui obrigada a decorar, mesmo sem entender. Ainda
sei de cor orações de fórmulas pesadas e estranhas ao meu mundo infantil que
aprendi a recitar. Eu juntava as mãozinhas e rezava: “Ó meu Jesus, livrai-nos
do fogo do inferno...” e, no peito, meu coração de criança tremia de medo de
cair neste lugar de horrores, com fogo e demônios horríveis. Na hora do terço a
gente rezava: “Salve rainha, [...] a vós bradamos os degredados filhos de Eva, a
vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas!”. Sem saber o que
rezava, ficava pensando por que motivo era eu filha de Eva, se minha mãe se
chamava Maria Angélica, e que vale de lágrimas era esse se eu morava no sopé da
montanha, feliz da vida no meio do mato.
A catequese
pensada para o século XVI, quando houve a reforma protestante e consequentemente
o Concílio de Trento, não fazia mais sentido para uma criança da segunda metade
do século XX, já influenciada pela razão, possuída de desejo de saber todas as
coisas. Poderíamos enumerar os exemplos ao infinito, mas estes são suficientes
para percebermos que as aulas de catecismos traziam informações sobre Deus, os
santos, o céu, o inferno, a vida católica e seus rituais, mas elas não se preocupavam
em explicar as razões da fé. A Igreja – portadora da verdade de Deus – se
contentava em transmitir as verdades da fé professada. A catequese era uma
aula, mas uma aula ao modo antigo, não como hoje quando se faz a construção do
conhecimento a partir das condições próprias do aprendiz. A primeira fase da
catequese escolar entendia o catequizando como uma espécie de “cabeça oca” que
devia ser preenchida pelas verdades da fé que a Igreja lhe transmitia. Foi uma
fase curiosa da catequese, pensada especialmente para responder ao problema do
momento: as controvérsias da Igreja Católica com as Igrejas da Reforma. No seu
tempo, deu seu fruto. Mas, certamente, não é essa catequese que propomos hoje
para a nossa paróquia, quando nossos tempos não são mais de disputas entre as
Igrejas, mas de tolerância e diálogo, tempo não mais de monopólio da fé por
parte da Igreja Católica, mas de pluralismo religioso, de ecumenismo, de
diálogo interreligioso. A fase do catecismo durou do século XVI até começos do
século XX, e nós já estamos no século XXI. O século XX experimentou fortes
mudanças que exigiram da Igreja uma mudança também na catequese. Uma nova fase
da catequese começou a ser gestada: a reflexão catequética se difundiu
rapidamente, mas sua implantação foi lenta. Sobre essa segunda fase da
catequese, falaremos no próximo número. Não percam!
Mais artigos da profa. Solange no:
www.fiquefirme.com.br.
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